domingo, 14 de abril de 2024

Eliane Cantanhêde - Nova frente de batalha

O Estado de S. Paulo

Aumento de servidores é problema orçamentário, econômico e político, num ano eleitoral

O presidente Lula vai dar de cara com mais uma frente de conflitos, a dos servidores públicos. A semana começa com pedido de 30% de aumento geral de salários, ameaça de greve de professores – categoria tradicionalmente alinhada com o PT – e risco de virar bola de neve. A questão é orçamentária, econômica e também política, num ano eleitoral.

Como sempre, Lula acionou o apagador-mor de incêndios, Fernando Haddad, da Fazenda, não só para fazer as contas, mas para dizer “não” com sobriedade e negociar saídas, enquanto Esther Dweck, da Gestão, toureia os líderes do funcionalismo, cara a cara, e Rui Costa, da Casa Civil, fica na espreita para dar o bote petista ao final da negociação.

O Brasil fechou 2023 com 1,2 milhão de funcionários federais, ativos, aposentados e pensionistas, com um gasto de R$ 290 bilhões, praticamente 9% do PIB brasileiro. Lula e PT são adeptos de Estado inflado e de, quanto mais servidores, melhor. Na contramão, Haddad só pensa em arrecadação, equilíbrio fiscal e déficit zero.

O governo condiciona negociação a não haver greve, tenta acertar com setores separadamente e aumenta auxílio-alimentação, plano de saúde e bolsa-creche, não salários. Haddad argumenta que o orçamento de 2024 está fechado e aumentos, só depois de 2025, enquanto Rui Costa esconde dado importante: como ficaram os R$ 5,6 bilhões em emendas de comissões vetados por Lula/Haddad? Foi tudo liberado, ou tem sobra para usar em salários (ou contra greves)?

Haddad conta também com a distribuição de 100%, ainda neste ano, de dividendos extraordinários da Petrobras. Como a União é a maior acionista, seria uma mão na roda para o déficit zero e para compensar as perdas com o golpe na reoneração de municípios, mas não tem nada a ver com salário de funcionalismo.

O foco está nos professores, mas o risco é virar bola de neve contra um sonho fiscal. Ou Lula se prepara para onda de greves de servidores, acirrando os ânimos entre eles e afetando atendimento ao distinto público, ou lá vai Haddad tentar solução política para um problema orçamentário.

A tudo isso somem-se a queda de Lula nas pesquisas, os incêndios nas Américas e avanços do bolsonarismo no Congresso, com empurrão do empresário Elon Musk, do presidente da Argentina, Javier Millei, e do chanceler de Israel, Israel Katz, que miram no STF para acertar em Lula. É hora de greve de servidor público, uma atrás da outra? Lula acha que não, mas precisa combinar com os “russos” e... com Haddad.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Nada é fácil...