Anunciou-se semana passada que o Brasil pretende colocar títulos no exterior com o fim de captar recursos para financiar projetos de Governo. Parece um mal momento para testar a credibilidade brasileira no mercado internacional. A ausência nas urnas de quase 30% dos eleitores e o encolhimento dos partidos de sustentação das atuais lideranças refletem a percepção de que o País vive um momento de governabilidade duvidosa.
O elevado número de não comparecimento às seções de votação revelou a insatisfação da população com um acúmulo de complicações geradas dentro da própria estrutura de Poder, que comprometem a Nação, ameaçando, ao mesmo tempo, a estabilidade das contas públicas, com um déficit, esperado para este ano, de R$ 66 bilhões, e de R$ 93 bilhões em 2025. Soma-se a isso uma dívida pública superior a um trilhão de reais, tendendo para continuar se expandindo.
Uma dissecação menos acadêmica, e mais tangível, do cenário mostra uma escalada de intenções oficiais e oficiosas inusitadas, tentando "tapar o sol com a peneira”, na esperança de cobrir os buracos abertos no Tesouro. Fantasia-se, como certa, a entrada de recursos que o governo espera sacar, entre outros, das empresas nacionais e estrangeiras, e dos chamados milionários, com novas taxações fiscais.
Dessa cartola é que se quer tirar coelho, para não se estender em explicações sobre a ideia da expansão dos jogos de azar, ou lembrar a expectativa de atrair para o Brasil parcela dos imaginários U$ 23 trilhões carimbados para descarbonização. A produção da energia limpa é ainda uma simples retórica, embora com muitos candidatos a se apropriar dessa grana invisível que, se abortada, na conferência do clima de 2005, em Belém, virá cheia de regras e condicionamentos, que muitos terão dificuldades de cumprir.
As eleições municipais fizeram implodir uma espécie de "espiral do silêncio" por parte dos cidadãos. Descobriu-se que “... demonizam-se aqueles que produzem, subsidiam-se os que se recusam a produzir e canonizam-se os que só sabem reclamar". A ponderação é do o filósofo norte-americano Thomas Sowell. No entendimento do filósofo francês Paul Ricoeur, as palavras geram realidades. Tudo bem como generalização discursiva, mas parece que elas não conseguem criar riquezas, promover o crescimento ou pacificar nações. A sociedade, cheia de carências, reivindica sinais concretos. Por isso, irrita-se fácil com tanta lorota.
Nesse momento político, em que se procura dar legitimidade a pensamentos exclusivistas, as narrativas ideológicas, mal articuladas, só servem para polarizar a convivência social, revelar quem não produz, e negar a canonização dos que só sabem reclamar. Há pessoas e partidos cuja virtude histórica é atuar na Oposição. O cidadão começa a desconfiar que mergulhou num pote sem fundo, ao defrontar-se com narrativas de quem não assume nenhuma responsabilidade institucional pelo o que diz, como se estivesse todo o tempo discutindo futebol em mesa de botequim. São clichês forjados artificialmente, para dar legitimidade à palavras soltas. "Os milionários e as multinacionais que se danem!".
Distorcendo sentidos, evita-se entender que tanto um como o outro são responsáveis pela criação de milhares de empregos no País. À parte os milionários que atuam dentro do aparelho de Estado e que só sabem reproduzir nepotismos e salários, os cidadãos chamados de "milionários" - de milhão: classe média - às vezes com rentabilidade maior que aqueles que produzem diretamente ou vendem sua força de trabalho, tem ganhos, em sua maioria, com poupanças resultantes da compra de ações de empresas produtivas, mas que não tem capital suficiente para operar com regularidade. Beneficiam-se não apenas empresas privadas como as estatais e as privatizadas. Os milionários que vivem do jogo (jogos de azar), esses sim precisam de um freio porque não parece ser uma atividade moralmente aceita. Mas tem apoio dentro do próprio Governo
As 269 empresas multinacionais, na
linha de tiro para terem os lucros taxados com mais 15 por cento,
não só criam empregos, como atraem investimentos do exterior ,
substituem importações produzindo internamente, e
trazem para o Brasil tecnologias desconhecidas Quando se fala em
substituição de importações não se acredite que o parque industrial brasileiro,
com o seu próprio fôlego e criatividade, gerou, por si só, toda uma indústria
de máquinas pesadas, de veículos automotivos, de energia convencional ou
alternativa, chamada hoje de" limpa", e até plataformas de
petróleo, que a Petrobrás importou inteira dos países nórdicos. Teve plataforma
que veio boiando pelo Atlântico.
Enquanto canonizam-se aqueles que só sabem contar histórias, aumenta a quantidade de desamparados perambulando pelas ruas. Agora descobriu-se que os garimpeiros na Guiana (francesa) são trabalhadores brasileiros desempregados, praticamente expulsos do Brasil. O endividamento do Governo está crescendo assustadoramente. As estatais estão gerando imensos prejuízos. O dólar caminhando para R$ 6 reais. A bolsa fechando pregões em queda. E, parece, que a inflação está nadando ao sabor da ondas.
As estatísticas do IBGE, da Fundação Getúlio Vargas, do Dieese não batem com as das donas de casa, nem com as taxas de desemprego reais. Vi em um mercado a carne "filé de boi" que, há um ano, custava os tais R$ 49,90, sendo vendida por R$ 202,00; a prometida " picanha" por R$ 150,00. A "tilapia”, de R$ 20,00 pulou para R$ 70,00. Diariamente, em praticamente, todos os mercados há um problema com o consumidor relacionado com preços. A fiscalização acompanha convenientemente. Os irmãos Batista (Joesley e Wesley), proprietários de grandes frigoríficos, e com dívidas pendentes com o Tesouro - que o Supremo está perdoando -, participam de convescotes com autoridades de governo, longe da vista da população.
Os encarregadas de gerenciar os verdadeiros dramas cotidianos demonstram não ter nenhuma responsabilidade sobre as justificativas que dão para esse descontrole no campo da microeconomia ou para as soluções macroeconômicas que imaginam. A governança parece estar entregue a empresas de marketing. O suposto acidente com o avião presidencial era uma tentativa de justificar a compra de um novo "Aerolula", cujas despesas de manutenção e uso avançam vigorosamente sobre o Orçamento público. Até o Presidente da República presta-se como garoto propaganda. Como dizem lá pelo Oriente Médio os teóricos do Hamas: a cultura ocidental, sob a égide da democracia, é materialmente permissiva. Cabe tudo. Daí essa confusão em que o País se encontra metido.
Um comentário:
Filé de 200 reais e picanha a 150,conta outra.
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