O Estado de S. Paulo
Lula joga culpa por falta de votos no PT e desconversa sempre sobre reforma ministerial
A ideia de ter o presidente da Câmara, Arthur
Lira (PP-AL), no comando de um ministério em 2025, quando começa a segunda
metade do governo, foi levada ao gabinete do presidente Lula bem antes do
primeiro turno das eleições municipais. Alvo de críticas da “esquerda” do PT, a
proposta tem a simpatia de ministros do Supremo Tribunal Federal – alguns deles
defensores do semipresidencialismo – e ganhou força após o mau desempenho de
petistas nas urnas.
Na prática, nada garante o apoio do Centrão a Lula nas eleições de 2026. Mas o grupo, que tem um pé na canoa do governo, com ministérios na Esplanada, e outro no barco do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), inelegível até 2030, deixa a discussão rolar e faz cara de paisagem.
Enquanto isso, Lula joga a culpa pela falta
de votos em candidatos do PT no próprio partido e despista sempre que é
questionado sobre uma possível reforma ministerial. “Em time que está ganhando
não se mexe”, desconversa.
Não foi à toa que o ex-presidente da Câmara
João Paulo Cunha (PT) defendeu a ideia de levar Lira para o governo, em
entrevista ao Estadão. Um dos interlocutores de Lula, João Paulo não falou
sozinho: expressou a preocupação da ala mais pragmática do PT e do Palácio do
Planalto, que não sabe como enfrentar o avanço da direita e muito menos o
fenômeno Pablo Marçal.
Mesmo filiado ao nanico PRTB, e sem tempo no
horário eleitoral, o influenciador ficou em terceiro lugar na briga pela
Prefeitura de São Paulo. Saiu avisando, porém, que 2026 é logo ali na esquina.
Isso significa que, apesar de não aparecer mais, Marçal está entre nós. E há
uma fenda na direita bolsonarista.
É nesse cenário que surge a proposta
externada por João Paulo. Os defensores da articulação afirmam que, passadas as
eleições para a presidência da Câmara e do Senado, em fevereiro de 2025, Lira
pode auxiliar Lula a juntar o dividido Centrão e a montar uma aliança
estratégica em torno do petista para a disputa da reeleição, em 2026.
Com a experiência de quem vivenciou o
escândalo do mensalão, João Paulo também diz que não se pode deixar derrotados
no caminho após as eleições na Câmara. O Centrão, atualmente, tem vários
pré-candidatos ao Planalto. Na lista estão os governadores de São Paulo,
Tarcísio de Freitas, e de Goiás, Ronaldo Caiado, além do “outsider” Marçal. Mas
por que uma fatia do Centrão não tão bolsonarista assim ficaria com Lula?
Ninguém falou na vaga de vice até agora. O
fato, porém, é que essa cadeira, hoje ocupada por Geraldo Alckmin (PSB),
desperta muito interesse. E, até lá, outros ingredientes vão aparecer para
apimentar ainda mais essa sopa de letrinhas.
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