Folha de S. Paulo
As escolhas beligerantes do ex-presidente e
sua turma os levaram a pagar o preço da própria estupidez
Se ficassem inertes a reiterados atos de
desafio à legalidade, autoridades incorreriam em grave omissão
Preso Jair
Bolsonaro (PL) estava em casa, preso
continuará na Polícia
Federal até que o ministro Alexandre de
Moraes decida lhe dar, ou não, o benefício da domiciliar ao fim
do processo. Mais uma vez o ex-presidente e sua turma dada a reiteradas
afrontas à Justiça lhe causam dissabores.
A ordem preventiva aconteceu devido à convocação de manifestantes para vigília feita pelo filho Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e à violação da tornozeleira eletrônica, o que por si justificaria a medida cautelar.
As fugas de correligionários certamente
pesaram na decisão, tomada a pedido da PF com a concordância da Procuradoria-Geral
da República. Portanto não há o que se falar sobre a observância do
devido processo legal.
Talvez não houvesse risco objetivo de
Bolsonaro escapar da estreita vigilância que o cerca, mas havia sinais
contundentes da necessidade de se dar um aviso de contenção a outros condenados
no processo por tentativa de golpe de Estado.
Ao ser implacável com o líder, a Justiça
indica que será intransigente com os liderados. Afinal, quatro deles já
desafiaram o tribunal: dois deputados foragidos —Carla
Zambelli (PL-SP) e Alexandre
Ramagem (PL-RJ)—, um senador posto em tornozeleira eletrônica
depois de sair do país sem autorização —Marcos do Val (Podemos-ES)—
e um deputado ora longe do alcance do STF, onde é réu
—Eduardo
Bolsonaro (PL-SP), nos Estados Unidos desde março.
Se assistissem inertes ao que se poderia
interpretar como atos preparatórios para descumprimento da sentença prestes a
ser executada, a Polícia Federal, o Ministério
Público e o Supremo Tribunal Federal estariam incorrendo em
grave omissão.
O contexto desfavorece a concessão de
benefícios no campo judicial, e, na seara política, o cenário tampouco o
favorece. As escolhas pelo confronto desprovido de estratégia e a ignorância no
trato da dinâmica institucional levam Bolsonaro e bolsonaristas a pagarem o
preço decorrente da própria estupidez; incompatíveis que são com a vigência
do Estado democrático de Direito.

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