• Ministro coleciona atritos por tentar barrar gastos que acabam sendo feitos
• Ele barrou R$ 500 mi de emendas, mas depois cedeu; o mesmo ocorreu com a meta do superávit e o 13º dos aposentados
Natuza Nery, Andréia Sadi – Folha de S. Paulo
BRASÍLIA - Na iminência de perder o vice-presidente Michel Temer como titular da articulação política, o governo e o PMDB passaram a atribuir parte dos recentes desgastes com o Congresso ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Na avaliação do partido e do Palácio do Planalto, Levy está "esticando a corda" e prejudicando o esforço do Executivo de recuperar alguma estabilidade no Congresso. Muitos afirmam que o ministro gera o desgaste, mas, depois, é obrigado pelas circunstâncias a recuar, arranhando sua credibilidade.
Segundo relatos à Folha, três episódios ajudaram a tumultuar a convivência de ministros políticos com o chefe da equipe econômica. No mais recente, o titular da Secretaria de Aviação, Eliseu Padilha –no comando da distribuição de cargos e verbas parlamentares ao lado de Temer– bateu boca com Levy.
O motivo era a liberação de R$ 500 milhões em emendas, medida considerada crucial à estratégia de amenizar a rebelião de partidos aliados.
A Fazenda barrou o repasse. Padilha reagiu: "Não vou recuar na minha palavra", disse para Levy, em uma discussão tensa que logo repercutiu na Esplanada.
A confusão reforçou a pressão do PMDB para que Temer abandonasse o posto de negociador do governo. Motivo: falta de autoridade para exigir que Levy cumprisse um acordo ratificado pela própria presidente da República.
A decisão final é que o dinheiro sairá. Mas o estrago já foi feito. "Levy não pode interferir na competência da SRI (Secretaria de Relações Institucionais)", disse um ministro petista, referindo-se ao ministério acumulado por Padilha, responsável por atender às demandas do Congresso e, assim, viabilizar votações importantes para o governo.
Para o núcleo político da Esplanada, Levy joga errado. Coloca-se contra propostas do próprio governo, num primeiro momento, mas depois é obrigado a recuar.
Considerado politicamente inábil no PT e, agora, no PMDB, ministros de ambos os lados já começam a ironizar o título dado à Levy de avalista da política econômica, contestando a tese de que o país afundará caso ele deixe a Fazenda. "Ao menos iremos para o abismo com um fiador", brinca um ministro.
Em uma reunião recente com o Senado para discutir a Agenda Brasil, pacote anticrise do PMDB, o ministro ouviu críticas duras. "Levy, o teu tempo não é o da política. No dia que você conseguir arrumar a casa, a presidente terá de entregá-la a alguém de fora do governo porque já terá sido tarde", afirmou o senador Romero Jucá (PMDB-RR), segundo a Folha apurou.
Levy tem sido obrigado a recuar em seus embates. Ele até consegue travar medidas de aumento de gastos em um primeiro momento, mas é sempre vencido adiante. Foi assim com a redução da meta do superavit primário (economia para pagar juros da dívida). Ele queria algo próximo a 1,1% do PIB. O governo rebaixou para 0,15%.
O mesmo ocorreu com a antecipação de metade do 13º dos aposentados. Ele suspendeu o adiantamento, o que afetaria 32 milhões de pessoas, mas acabou sendo obrigado a rever sua posição.
Na semana retrasada, ele suspendeu negociações para aumentar o limite de endividamento dos Estados mesmo depois da presidente ter se comprometido com governadores. Agora, já fala em ceder. Em todos os casos, o Planalto amargou desgastes.
Procurado para comentar, Levy disse, por meio de sua assessoria, que também sofre com a falta de dinheiro.
"Apoio o ministro Padilha. Também estou frustrado. Frustrado porque falta dinheiro e não temos como produzir mais dinheiro, então é preciso realocar o que existe dentro dos ministérios. Estamos tentando fazer o máximo com o que temos", disse.
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