- Folha de S. Paulo
Investimento desacelera e cresce apenas 2,1% em 2019, estima Ipea
Os brasileiros remediados compram mais carros e casas. Tomam mais dinheiro emprestado. O consumo de varejo cresce, dentro das possibilidades da nossa pobreza e com esse emprego tão precário.
Pelo andar da carruagem, tudo parece compatível com um crescimento de pouco mais de 2% neste 2020. Medíocre, mas melhor. Mas a carruagem está com uma roda quebrada.
O investimento em construções, máquinas, equipamentos e outros bens de produção cresceu apenas 2,1% no ano passado, segundo estimativa divulgada nesta quinta-feira (6) pelo Ipea (instituto federal de pesquisa econômica). E daí?
Para que o PIB cresça pouco mais de 2% em 2020, é preciso que o investimento avance muito mais do que em 2019: uns 5%. O investimento tem perdido ritmo. Os dados oficiais da produção de bens capital já indicavam cheiro de fracasso. Vamos ter certeza disso apenas no final do mês.
Por medíocre que seja, além de limitado à parcela mais rica (ou menos pobre) da população, o consumo tropeça, mas não cai, ao menos por enquanto.
Apesar do janeiro ruim, a venda de veículos nacionais ainda segue em bom ritmo (alta de 6% no trimestre encerrado em janeiro, na comparação anual). As vendas de imóveis novos crescem, em particular por causa do resultado excepcional da cidade de São Paulo (aumento de mais de 48% de unidades vendidas nos doze meses contados até novembro de 2019). As concessões de crédito imobiliário perderam um pouco de ritmo, mas crescem a mais de 5% ao ano no país.
Mesmo com o resultado horroroso da indústria em 2019 (queda de 1,1%), a produção de bens de consumo se manteve no azul. A massa de rendimentos, a soma de todos os rendimentos do trabalho, aumenta a 2,5% por ano. Devagar, sim, mas compatível com aquele crescimentozinho do PIB de 2%. Ressalte-se: estamos aqui falando apenas da possibilidade de que as nossas expectativas reduzidas não sejam frustradas, não de milagre do crescimento. Qual o risco?
A economia mundial lerda e a Argentina em particular avariaram a indústria já combalida, incapaz ou incapacitada de inventar novos produtos e mercados, clientes. A exportação de veículos caiu pavorosos 30% nos últimos 12 meses, por exemplo (184 mil carros a menos). O comércio exterior não vai nos ajudar a sair da estagnação. Ao contrário.
O investimento parece em um beco sem saída. Não haverá crescimento do gasto público em obras e equipamentos pelos próximos anos. Ao contrário. Caso o governo acorde, haverá um aumento mais notável de concessões de obras para a iniciativa privada apenas em 2021.
O governo abriu um olho nesta semana ao tirar da paralisia o processo de licitação do 5G. Como há muita capacidade ociosa nas empresas (que também por isso quase não investem), um aumento das despesas de capital teria de vir de setores não diretamente dependentes do ciclo econômico, da conjuntura, do curto prazo. É o caso do 5G, da renovação do setor de gás, talvez do saneamento, enfim, de estradas, ferrovias, portos e energia.
Alguém aí ouviu falar de alguma grande obra ou iniciativa nesses setores? Novos projetos ou nós regulatórios desfeitos com rapidez?
O presidente dedica-se à demagogia dos combustíveis e outras picuinhas. Promete mais atrocidade ambiental, exploração de terras indígenas e faz diplomacia desvairada, colocando em risco a relação com parceiros comerciais e investidores externos. Deveria estar obcecado com investimento, mas não sabe do que se trata.
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