Na
disputa entre Lula e Bolsonaro não há dois extremistas. Há um: Bolsonaro. O
centro deve procurar seu espaço, seu programa, seu candidato, ou seus
candidatos, porque o país precisa de alternativa e renovação. Mas não se deve
equiparar o que jamais teve medida de comparação. O ex-presidente Lula governou
o Brasil por oito anos e influenciou o governo por outros cinco. Não faz
sentido apresentá-lo como se fosse a imagem, na outra ponta, de uma pessoa como
o presidente Jair Bolsonaro.
O PT jogou o jogo democrático, Bolsonaro faz a apologia da ditadura. A frase que abre esse parágrafo eu disse em 2018, em comentários e colunas, no segundo turno das últimas eleições. Era a conclusão da análise dos fatos e das palavras dos grupos políticos que disputavam a eleição. Fui hostilizada por dirigentes petistas do Rio dentro de um avião, processei por difamação um servidor do Planalto no governo Dilma. Sou vítima de constantes fake news e agressões do gabinete do ódio do governo Bolsonaro. Já fui criticada em público pelo ex-presidente Lula mais de uma vez e fui vítima de mentiras sórdidas ditas pelo presidente Jair Bolsonaro. Poderia com base nisso afirmar que os dois são iguais? Objetivamente, não. Seria falso. Posso concluir que ambos não gostam de mim, mas isso é o de menos. Não é uma questão pessoal.
Em
dois anos e quatro meses, Bolsonaro superou as piores expectativas. Na
pandemia, ele mostrou seu lado mais perverso. A lista é longa. Deboche diante
do sofrimento alheio, disseminação do vírus, criação de conflitos,
autoritarismo. O país chegou ao número inaceitável de 400 mil mortos com um
presidente negacionista ameaçando usar as Forças Armadas contra a democracia.
Em Manaus, no último fim de semana, ele repetiu que poderia lançar os militares
contra as ordens dos governadores. “Se eu decretar, eles vão cumprir”. Esse
clima de beligerante intimidação prova, diz um general, uma “necessidade
doentia de demonstrar ter poder”. Segundo essa fonte, “cada vez que se declara
detentor dessa suposta força, demonstra na verdade não tê-la”. Seja qual for a
análise da mente distorcida do presidente, o fato é que ele ameaça o país com a
ruptura institucional no meio de um doloroso sofrimento coletivo.
O
ex-presidente Lula teve uma política ambiental de excelentes resultados na
gestão da ministra Marina Silva e do ministro Carlos Minc. O país viu avanços
na inclusão de pobres e negros. Na economia, houve erros e acertos. No campo
institucional, escolheu ministros do Supremo qualificados e nomeou
procuradores-gerais da lista tríplice. Bolsonaro quer devastar a floresta,
capturar as instituições e seu governo exibe preconceito como se fosse natural.
Bolsonaro
faz ataques sistemáticos aos veículos de imprensa e aos jornalistas. Lula
ameaçou impor o que ele chamou de “regulação da mídia”, mas recuou diante da
resistência dos órgãos de comunicação. Ameaças nunca devem ser subestimadas,
mas as instituições sabem lidar com um governante que tenha um mau projeto.
Mais difícil é se defender de um inimigo da democracia como Bolsonaro.
As
decisões recentes do Supremo Tribunal Federal tiraram as penas que recaíram
sobre Lula e ele tem dito que foi inocentado. Tecnicamente sim, porque não é
mais um condenado pela Justiça. O PT defende a tese de que foi tudo uma
conspiração contra o partido. Falta explicar muita coisa, mas principalmente a
materialidade do dinheiro que foi devolvido por corruptos e corruptores ao
poder público.
Bolsonaro
usou o sentimento anticorrupção sem o menor mérito, como se vê na sucessão de
rachadinhas, funcionários fantasmas, pagamentos em dinheiro vivo e transações
imobiliárias que rondam a família. Isso sem falar nas relações estreitas com
personagens obscuros, como o miliciano Adriano da Nóbrega.
Partidos de outras tendências políticas devem trabalhar para oferecer alternativas ao eleitor brasileiro, porque a democracia é feita da diversidade de ideias e de propostas. O erro que não se pode cometer é dizer que essa é a forma de fugir de dois extremos. Isso fere os fatos. Não existe uma extrema-esquerda no país, mas existe Bolsonaro, que é de extrema-direita. No governo, ele multiplicou as mortes da pandemia e sempre deixa claro que se puder cancela a democracia.
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