Folha de S. Paulo
O ex-médico está irritado. Mas seu problema
é com os números, que ele erra por milhares ou milhões
Marcelo Queiroga, ex-médico e atual
porta-voz do presidente e ministro da Saúde Jair Bolsonaro, está muito
irritadinho no cargo. A qualquer pergunta descontrola-se, faz má-criação ou
abandona a entrevista. Em setembro de 2021, em Nova York, quando ajudou a
carregar as malas de Bolsonaro na visita deste à ONU para um esquete humorístico,
Queiroga estomagou-se com um protesto e mostrou
o dedo para as câmeras. Era caso de Maracugina na veia.
Disse há tempos que espera "um bom julgamento da história". Tarde demais. Seu antecessor Eduardo Pazuello entregou-lhe o país com 11,5 milhões de casos de Covid e 280 mil mortos. Queiroga já elevou esses números para, até agora, 23 milhões de casos e 620 mil mortos. Números, aliás, são um problema para ele. Sempre que tem de citar algum, embarafusta-se com os zeros e erra por milhares ou milhões.
Outro dia, disse que o Brasil tinha 4.000
mortos por uso da vacina antiCovid. Mas, segundo seu próprio
ministério, só uma pessoa morreu disso, donde Queiroga errou por 4.000%. Quando
ele anuncia que 20 milhões de testes ou 40 milhões de vacinas vão chegar no dia
tal, é bom dividir os números pela metade e multiplicar os prazos por dois.
Neste momento, atendendo à voz do dono, está sentado nas traseiras, tentando
adiar a vacinação das crianças.
Queiroga quer ser governador ou senador por
seu estado, a Paraíba. Num comício em João Pessoa, anunciou que Bolsonaro tinha
"chamado outro paraibano para vencer uma pandemia". Referia-se ao
presidente Epitácio Pessoa, que "governou o país na época da Gripe
Espanhola". Errou. A Espanhola foi de setembro a novembro de 1918. O
presidente era Wenceslau Braz. Na época, Epitácio estava na França, tomando
champanhe e preparando-se para fazer figuração na Conferência de Paz, em Versalhes.
"Eleito" (votos fraudados) em 13 de abril de 1919, só tomaria posse
em 28 de julho.
Em "narrativa", Queiroga é
doutor.
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