O Estado de S. Paulo
A corrupção não consta na carta pela democracia, porque no Brasil ela é democrática
Defino “sistema” como o conjunto de
lideranças apodrecidas das instituições e das elites econômicas que fazem
escambos entre si para manter ou aumentar seus poderes, privilégios e
blindagens, em detrimento da moralidade e do interesse públicos.
A Carta às Brasileiras e aos Brasileiros em
Defesa do Estado Democrático de Direito!, divulgada em 26 de julho de 2022,
busca proteger o regime em que “temos os Poderes da República, o Executivo, o
Legislativo e o Judiciário, todos independentes, autônomos e com o compromisso
de respeitar e zelar pela observância do pacto maior, a Constituição Federal”
de 1988, onde estão previstas “eleições livres e periódicas”, “cabendo a
decisão final à soberania popular”.
Assim entendida, a “democracia” é perfeitamente compatível com o sistema, uma vez que o respeito e o zelo pelas regras constitucionais são matérias de interpretação da cúpula circunstancial dos Poderes, que não deveria, mas pode, conforme a conveniência, afetar retoricamente o referido compromisso sem cumpri-lo na prática.
Manifestar-se pontualmente em defesa da
separação de Poderes e do processo eleitoral contra as ameaças ostensivas de
golpe de Estado feitas por um presidente reacionário, aloprado e apavorado com
o risco de derrota iminente nas urnas é
mais fácil, e menos arriscado em termos de
retaliação, que defender diariamente o País contra um conjunto de líderes
poderosos e maliciosos que corroem o regime democrático por dentro e sem
alarde, por exemplo desviando, permitindo desviar e mantendo impune quem desvia
dinheiro do povo para campanhas e enriquecimento pessoal, em detrimento da
oferta e da qualidade de serviços públicos, bem como da lealdade na
concorrência de mercado.
Jair Bolsonaro é a cortina de fumaça ideal
do sistema que ele próprio ajudou a fortalecer, como apontei em artigo de 10 de
agosto de 2021, porque não só deu ao conjunto de lideranças apodrecidas das
instituições e das elites econômicas uma causa nobre pela qual vale a pena sair
em defesa junto à sociedade civil, como também desmobilizou a parte dela que
defendia o combate à corrupção literalmente sistêmica.
A corrupção não consta na carta pela
democracia, porque no Brasil ela é democrática.
A esquerda demagoga, a direita reacionária
e o centro fisiológico, com empresários cúmplices e afilhados no Poder
Judiciário condescendentes, roubaram e tendem a continuar roubando juntos. Ou
separados. Em estatais. Em ministérios. Em gabinetes.
É o País dos ‘corruptos democratas’.
Um comentário:
É,a ''corrupção é democrática'',ao menos no Brasil,quiçá no mundo.
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