segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Mathias Alencastro* - Recados contra o golpe

Folha de S. Paulo

Compromisso de Washington com democracia brasileira é real, mas condicionado pela política doméstica

Quinze dias depois da escandalosa apresentação de Jair Bolsonaro (PL) a embaixadores, os Estados Unidos enviaram um triplo recado militar, jurídico e econômico.

Em visita ao Brasil, o secretário de Defesa Lloyd Austin falou em "devoção à democracia", deixando implícito que a cooperação militar seria interrompida se as Forças Armadas brasileiras aderissem ao golpismo. Por sua vez, a comissão de inquérito do Congresso americano sinalizou a possibilidade de incluir o bolsonarismo nas investigações contra Donald Trump.

Enfim, nesse período também ficou claro que a Faria Lima teria de escolher entre o Posto Ipiranga e o sistema Swift, pois a ruptura institucional seria sinônimo de alienação do sistema financeiro. Isso explica a quantidade de empresários recém-convertidos que correram para assinar a carta pró-democracia.

Não passou despercebido o contraste entre os recados de Washington em 2022 e 1964. O principal avalizador da derrubada do governo civil brasileiro 50 anos atrás pode agora ter tido um papel decisivo na sua preservação.

A História certamente ressaltará o papel da sociedade civil brasileira, mas também de responsáveis políticos americanos. Bernie Sanders, por exemplo, não é apenas uma figura simpática da esquerda ligada ao Partido Democrata. Ele é o presidente da comissão do Orçamento, a mais poderosa do Senado.

Mas a virada pró-democracia dos EUA também tem relação com uma nova orientação geopolítica. Sob Trump, a política para a região foi marcada pela alucinada tentativa de emplacar Juan Guiadó na Venezuela e pela ausência de liderança durante a pandemia. Diante do avanço dos interesses chineses e russos nesse período, Biden foi obrigado a reconhecer que a hegemonia americana na região é apenas parcial.

Nesse contexto, a tolerância a regimes democráticos, mas não necessariamente alinhados, oferece um melhor custo-benefício do que tentativas incertas de interferência política.

provável chegada de um novo governo Lula se enquadra nessa estratégia geral, mas tem as suas especificidades. A perspectiva de ter Brasília independente, mas comprometida com o multilateralismo, é obviamente mais atraente para Washington do que uma errática e incompetente como tem sido a dos últimos quatro anos.

A isso se soma o fato de a agenda golpista do governo Bolsonaro ser vista como uma ameaça à segurança nacional. Um "Capitólio em Brasília" seria apresentado como uma vitória pessoal por Trump e daria força aos republicanos que planejam contestar a legitimidade das urnas.

Se a última década nos ensinou alguma coisa é que as crises da democracia se retroalimentam e se reforçam. Contrariamente a 1964, a leitura da América Latina feita pelos democratas está longe de ser consensual dentro da classe política americana.

vitória de candidatos de esquerda na Colômbia, no Chile e, provavelmente, no Brasil já está sendo denunciada por republicanos como uma derrota dos democratas. Em outras palavras, a lua de mel entre os EUA e a democracia na América Latina veio na hora certa, mas pode ser de curta duração.

*Pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, ensina relações internacionais na UFABC

4 comentários:

Anônimo disse...

Você sabe muito bem que do jeito que as coisas estão Estados Unidos vão ficar pianinho e vai deixar o Brasil resolver o seus problemas , o mundo afora ninguém dá uma palavra, porque estão observando o que foi explicado pelo presidente na reunião com os embaixadores, ele mostrou documentos do TSE e PF provou que o site do Tribunal foi invadido e o hacker ficou seis meses livre , leve e solto,sem ninguém o detectar, e as provas login, do registro do que ele fez no período de maio a meados de outubro de 2018, após o primeiro turno, foram todos apagados pelo próprio tribunal, sem dar nenhuma justificativa e sem ninguém ser punido
A grande imprensa atual consórcio jogou pra debaixo do tapete a delação do Marcos Valério que foi aprovada pelo ST F onde ele coloca de forma clara a ligação do Lula do PT com o PCC, um escândalo ignorado, e ainda proibido feder divulgado pelo Alexandre de Moraes
Nas urnas Bolsonaro vai dar uma surra por isso que precisam de qualquer maneira fraudar as eleições na hora da apuração na sala secreta , mas os militares já estão no controle, a única saída vai ser negar o registro do presidente mas aí as consequências serão drásticas para esses aventureiros de toga

Anônimo disse...

Hahaha só rindo. Tem papagaio louro que não se toca….

Anônimo disse...

Com tanta coluna interessante neste blog, o primeiro anônimo desconsidera tudo e prefere papagaiar as mentiras bolsonaristas difundidas pelo Gabinete do Ódio do genocida... Mais da metade da população brasileira já não acredita mais no que fala o Bolsonaro, e o papagaio ainda vem repetir as mesmas asneiras negacionistas que já foram milhares de vezes desmentidas pela imprensa! Aproveita os textos do blog e aprende alguma coisa, vivente! O mandato do genocida está acabando e uma nova realidade vai surgir!

Fernando Carvalho disse...

O problema é o que vai fazer o bolsonarista da esquina depois de ouvir o papagaio do Gabinete do Ódio.