O Estado de S. Paulo.
Mudanças na regulação dos bancos americanos limitou crise do SVB aos bancos médios
O anúncio de que o UBS chegou a um acordo
para comprar o Credit Suisse, numa negociação mediada pelo órgão regulador do
setor financeiro da Suíça, deve tranquilizar um pouco um mercado ainda nervoso.
A garantia que as autoridades americanas haviam dado de que os depositantes do
SVB e do Signature receberão seus depósitos foi também importante. É uma
oportunidade para examinar como uma grande crise, a de 2008, atingiu o Brasil.
O País sentiu os efeitos daquela crise na forma de uma interrupção das linhas de crédito externo, que representavam 20% d o financiamento para empresas brasileiras. Eu estava na presidência do Banco Central e lembro que o problema se manifestou num dia em que a Petrobras desistiu de lançar títulos no valor de US$ 1 bilhão no exterior porque não tinha mercado.
Como tinha outros títulos a honrar, a
empresa tomou o equivalente a este valor em reais na Caixa e pagou os credores
em dólares. Operações semelhantes se espalharam e começou a faltar crédito e
dólares no mercado brasileiro.
Superamos o problema porque havíamos
acumulado reservas em dólar nos anos anteriores – tínhamos mais de US$ 200
bilhões na ocasião. As reservas nos permitiram anunciar que o BC tinha recursos
para substituir o sistema financeiro internacional, no que dizia respeito aos
financiamentos ao Brasil, durante um ano. Havia também problemas de companhias
insolventes devido a operações de venda a descoberto de dólares no mercado
futuro.
Anunciei em entrevista coletiva que o BC
venderia quantos dólares fosse necessário para resolver a crise. Fui perguntado
qual era nosso limite. A resposta: pode chegar a até US$ 50 bilhões. A falta de
vendedores de dólares no mercado futuro foi superada, a cotação caiu rapidamente
e o mercado se acalmou. Esta história, que para mim começa na década de 1990,
estará contada com maiores detalhes no livro de memórias que estou escrevendo.
O Brasil foi o país a sair mais rápido da
crise de 2008. O PIB recuou 3,8% no último trimestre de 2008, mas começou a se
recuperar no 1.º trimestre de 2009 e cresceu forte no 2.º. Por isso, fui
aplaudido em nome do Brasil no jantar final do encontro de presidentes de BCs
na Basileia, em janeiro de 2009.
Aquela crise fez com que este comitê, do
qual eu fazia parte, sugerisse mudanças na regulação dos bancos americanos para
prevenir que o problema se repetisse. Isso limitou a crise do SVB aos bancos
médios. Da mesma forma, os problemas de hoje podem servir para aperfeiçoamentos
do sistema.
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