quarta-feira, 21 de junho de 2023

Bernardo Mello Franco – A direita sem Bolsonaro

O Globo

Provável condenação de ex-presidente pode abrir guerra na direita. O establishment já indica preferência por Tarcísio de Freitas, mas ele não tem garantia de apoio em 2026

O Tribunal Superior Eleitoral começa a decidir amanhã o destino de Jair Bolsonaro. O ex-presidente será julgado por abuso de poder político e econômico na campanha de 2022. De tanto atacar a urna eletrônica, deve ficar fora dela pelos próximos oito anos.

O caso levado ao TSE seria inverossímil se não tivesse ocorrido no Brasil. O capitão convocou o corpo diplomático para achincalhar o próprio país. Mentiu sobre o sistema eleitoral, insinuou que a Justiça estaria a serviço do adversário e tentou apoio internacional para um golpe.

Certo da impunidade, ele produziu provas contra si mesmo. Ordenou que o discurso fosse gravado e transmitido ao vivo na TV estatal. Agora as imagens devem ser usadas para tirá-lo do jogo.

Condenado, Bolsonaro passará a viver uma nova fase. Depois de perder o poder, perderá também a expectativa de poder. Isso tende a enfraquecer qualquer político diante dos pares e dos eleitores. Para não falar dos tribunais, onde ele ainda terá que enfrentar uma série de processos criminais.

O provável veredicto do TSE deve aumentar a incerteza sobre a sucessão em 2026. Apesar da derrota para Lula, o capitão desceu a rampa com 58 milhões de votos. Agora este patrimônio ficará sem dono, o que pode precipitar uma guerra pelo comando da direita.

Bolsonaro sempre quis passar o bastão aos filhos, mas eles já viveram momentos melhores. O deputado Eduardo perdeu um milhão de votos em quatro anos, e o senador Flávio acaba de refugar de uma candidatura municipal.

O establishment já começou a indicar preferência por Tarcísio de Freitas, que tenta se vender como um bolsonarista moderado. No entanto, o histórico do capitão não permite dizer se os dois serão aliados para sempre. E Tarcísio ainda precisa mostrar resultados antes de desafiar uma antiga tradição.

O último governador de São Paulo a chegar ao Planalto foi Jânio Quadros, em 1960. Depois dele, cinco ocupantes do cargo foram triturados em eleições presidenciais: Paulo Maluf, Mario Covas, Orestes Quércia, José Serra e Geraldo Alckmin. João Doria seria o sexto, mas desistiu antes de concorrer.

 

2 comentários:

ADEMAR AMANCIO disse...

Dória nem conseguiu ser candidato...

Fernão Sampaio disse...

Mario Covas foi derrotado em eleicao presidencial 4 anos antes de ser eleito governador no 1 mandato