Folha de S. Paulo
Livro revisita a deposição de Dilma nos
fazendo pensar de trás para a frente
Foi Søren Kierkegaard quem afirmou que a
vida, embora seja vivida prospectivamente (um dia após o outro), só pode ser
compreendida retrospectivamente, isto é, quando analisamos os eventos
pregressos longe das emoções e à luz do que sabemos atualmente. Algo parecido
vale para os acontecimentos históricos.
"Operação Impeachment", de Fernando Limongi, é uma obra que nos lança nesse exercício kierkegaardiano. Eu e a maioria dos leitores acompanhamos de perto os eventos que levaram ao afastamento de Dilma Rousseff. E essa foi uma experiência que vivemos prospectivamente. Algo bem diferente, e elucidativo, é revisitar esses acontecimentos conhecendo os resultados que produziram. Melhor ainda quando guiados por um autor do calibre de Limongi.
Ao longo de 180 páginas, Limongi detona
alguns mitos. Mostra, por exemplo, que Dilma não era uma nulidade em termos de
ação política. Ela reagiu politicamente às manobras para tolher-lhe o mandato e
em várias disputas teve sucesso, ainda que tenha perdido a batalha final. O
autor também oferece um bom cabedal de explicações convincentes.
Dilma caiu porque a coalizão que a
sustentava foi rompida diante do pânico que a operação Lava Jato passou a
instilar entre os parlamentares. Em algum momento, esses políticos decidiram
que o governo já não era capaz de dar-lhes proteção e pularam fora. Limongi vai
aos detalhes, incluindo as articulações entre Moro e os procuradores, as
maquinações de Eduardo Cunha, as rivalidades entre grupos dentro do PT.
O que eu senti falta no livro foi da
economia. Ela só aparece "en passant", mas, se há uma lição de Marx
que não deveríamos esquecer é a de que a infraestrutura (economia) costuma
prevalecer sobre outras forças sociais. Se a economia sob Dilma estivesse
crescendo a 5%, 6% ao ano, acho que dificilmente teríamos tido o impeachment.
Talvez nem a Lava Jato tivesse assumido as proporções que ganhou.
Um comentário:
Muito bom.
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