quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Vinicius Torres Freire - Enquanto Lula tomava café com Campos, do BC, juros subiam e Congresso surtava

Folha de S. Paulo

Durante reunião de presidente e chefe do BC, havia mais sinais de piora na finança e na política

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se com o presidente do Banco CentralRoberto Campos Neto, encontro arranjado por Fernando Haddad a fim de "melhorar a relação". Quem sabe o clima até melhore. Não é lá relevante. De resto, no mundo lá fora da sala de reunião, havia calor e tempestades.

O clima na finança e na política voltou a piorar. De maio a julho, houvera onda de otimismo. Parte da degradação do ambiente não tem a ver com Lula ou Campos.

Não quer dizer que as perspectivas de crescimento do Brasil vão mudar lá grande coisa por causa disso. Mas nossas perspectivas são ainda muito medíocres para que possamos perder umas lascas de PIB.

Como tanto já se escreveu aqui, idas e vindas da finança dos EUA nos afetam. O dólar voltou a R$ 5,05 por causa das taxas de juros encrencas americanas. Em parte também por isso, as taxas de juros no mercado daqui, as de prazo superior a dois anos, sobem desde meados de agosto. Sobem ainda porque aumentou a descrença de que o governo conseguirá cumprir sua meta de redução de déficit.

arrecadação federal cai, o Congresso está inamistoso e agora surgiu essa polêmica de como pagar a conta de precatórios deixada pelo governo das trevas (2019-2022).

O Congresso estava meio parado desde que voltou de férias, à espera do pagamento de cargos prometidos por Lula. Não apareceram todos os cargos. Para piorar, a maioria do Congresso está em revolta com o Supremo, por motivos em tese e abstratamente corretos - o STF é uma monoautocracia que se mete em política e não raro legisla.

No mundo real e concreto, há revolta das bancadas do boi e da bala, entre outras menos cotadas, porque o Supremo disse que os indígenas podem, sim, reaver terras de onde foram expulsos antes de 1988 ("marco temporal"). As bancadas da reação também se revoltam porque o Supremo pode diminuir a punição de quem anda com uma droguinha; porque colocou na pauta uma outra possibilidade de aborto legal.

Como este é um Congresso conservador ou reacionário em grau raro de se ver, a revolta é na verdade ad hoc, contra essas decisões e iniciativas específicas do Supremo. Já nesta quarta aprovaram uma lei ainda mais reacionária sobre terras e vidas indígenas. De quebra, prometem uma PEC para dar cabo dessas decisões monocráticas a torto e a direito, entre outras exorbitâncias do Judiciário.

Lula nada tem a ver com a pendenga do Congresso com o Supremo; menos ainda com os juros americanos. Mas pode sobrar para o seu governo. Já está sobrando.

Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara e sultão de todos os centrões, aproveitou o sururu para reforçar sua ofensiva para obter os cargos que ele e amigos querem (como na Caixa, mas não apenas). Por isso, o Congresso vive uma mistura de greve, locaute e operação-padrão. Entretanto, o governo precisa aprovar uma série séria de projetos a fim de aumentar sua receita e de dar um jeito no rolo bilionário dos precatórios caloteados por Bolsonaro-Guedes.

Nesse ambiente, fica mais difícil arrumar os remendões de que o governo precisa a fim de reduzir seu déficit. Na praça do mercado, aumentam as dúvidas sobre a força do plano fiscal de Lula-Haddad, pois.

Na prática, isso significa que os donos do dinheiro grosso e seus administradores cobram mais para emprestar ao governo ou para manter seus haveres em reais ("o dólar sobe"). Em 11 de agosto, a taxa real de juros do título do governo (NTN-B) com vencimento em 2029 descera a 4,97% ao ano; agora, voltou a 5,83%. O dólar não estava tão caro desde maio. Isso quer dizer que o custo de financiamento de consumo e investimento aumentou; que há um tanto mais de pressão na inflação (com dólar caro).

 

2 comentários:

EdsonLuiz disse...

■Presidencialismo de Coalizão, com Lula, Bolsonaro e Centrão, é assim::
▪"Este pedaço é só meu e do PT" ;
▪"Este pedaço eu aceito dar pra vocês do Centrão" ;
▪"Este pedaço aqui vocês do Centrão ganharam de Bolsonaro, mas eu quero uma parte dele para o PT e para mim".

Isto é um esquartejamento da vítima, não é um governo de coalizão.

■Em um presidencialismo de coalizão o executivo e o legislativo, os dois legitimamente eleitos para governar, decidiriam em comum acordo e em favor do Brasil a ocupação do poder.

Em um governo de Coalizão um Ministério da Saúde não seria capturado por uma força política para ela fazer o que desejasse, mas sim haveria a escolha de nomes que todas as forças de Coalizão consenssualizassem.

O espaço de poder não seria de Lula, de Bolsonaro, de Arthur Lira, do PT, do PL, do Centrão ou de quem quer que fosse ; o espaço de poder seria do mandato, servindo para executar o programa que houvesse sido APRESENTADO formalmente em campanha para ser votado pelo eleitor e executado em favor do Brasil.

Com Lula, Lira, Centrão e Bolsonaro a política, os votos que eles ganham e os mandatos que recebem são usados para esquartejarem o Brasil, com cada um carregando para si uma parte, fazendo negociatas e corrupção entre eles e deixando o país sangrando, com o sangue do brasileiro escorrendo morro abaixo e afogando as ruas com ignorância, violência e miséria.

Lula, o PT, Bolsonaro, o PL, Arthur Lira, o Centrão não são exatamente forças políticas ; são estripadores!

E o STF ? Um STF de José Tóffolli, Kássio Nunes, Lewiandoviski, Gilmar Mendes?...

...Deixa para lá!

■Pela democracia e para que o sangue não continue escorrendo do escarniçamento do Brasil, precisamos mudar este estado de coisas!

ADEMAR AMANCIO disse...

Estamos perdidos.