A vice escolhida por Joe Biden poderá ser o novo rosto do Partido Democrata em 2024
A escolha da senadora Kamala Harris como candidata a vice-presidente na chapa do democrata Joe Biden é histórica por vários motivos. Kamala, filha de um jamaicano e uma indiana, será a primeira mulher negra e a primeira descendente de asiáticos a integrar uma candidatura presidencial na história dos Estados Unidos. Embora fosse desde o início a favorita, havia certo suspense, pois ela se projetou na campanha ao questionar posições históricas de Biden a respeito das leis de integração racial. A escolha dele acaba por confirmar a importância do eleitorado negro para o Partido Democrata, que tenta se consolidar como partido da diversidade, de um país plural e multiétnico, em contraste com a homogeneidade do Partido Republicano, associado ao eleitorado predominantemente branco e masculino.
Ainda que a questão racial tenha adquirido protagonismo nesta campanha, sobretudo depois do cruel assassinato de George Floyd pela polícia em Minneapolis, é duvidoso que Kamala funcione como um ímã capaz de atrair às urnas negros e minorias na mesma proporção que Barack Obama em 2008 e 2012. Candidatos a vice têm pouco efeito na escolha do eleitor. Biden já tem, por si só, um laço histórico com o eleitorado negro, responsável pela ressurreição de sua candidatura depois das primárias da Carolina do Sul. Kamala, em contrapartida, é criticada por movimentos negros em virtude das posições duras que assumiu no combate ao crime quando procuradora-geral da Califórnia.
Nada disso, no fundo, deverá ser decisivo em novembro. Na prática, a eleição será um plebiscito sobre Donald Trump — e ninguém depende de Kamala para saber se vota contra ou a favor dele. A principal consequência da escolha de Biden transcende 2020. Se vencer, ele assumirá o poder com 78 anos e já declarou que não necessariamente almeja a reeleição. Sua vice emergirá, portanto, como candidata natural à sucessão em 2024.
Kamala poderá se tornar o novo rosto do Partido Democrata, a quem a geração de Biden e do casal Clinton entregará o bastão. É um rosto não apenas feminino, negro e multicultural. Também exibe traços moderados do ponto de vista econômico. Apesar de Kamala apoiar um programa de saúde universal, nada há nela da plataforma de tons socialistas de Bernie Sanders. Nem da ira de Elizabeth Warren contra bancos, grandes corporações ou empresas digitais. Warren era a vice preferida pela ala esquerda do partido. Na escolha de Biden, sua agenda econômica foi derrotada pela cultural e comportamental. As urnas dirão em novembro se ele acertou.
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