Campanha falsa sobre urnas eletrônicas carrega receio o evidente de sofrer uma derrota na próxima disputa
Jair
Bolsonaro nunca falou tanto sobre o risco de perder a próxima eleição quanto
nos últimos meses. A campanha do presidente para desacreditar
o sistema de votação com falsas suspeitas de fraude carrega o
aparente receio de sofrer uma derrota nas urnas em 2022.
A
aliança de Bolsonaro com o centrão e a redução dos atritos com outros Poderes
diminuíram as chances de um processo para removê-lo do cargo antes do fim do
mandato. Seu foco exclusivo de sobrevivência política passou a ser a reeleição.
Se tivesse a expectativa de uma vitória arrasadora em 2022, o presidente não precisaria alimentar semanalmente teorias conspiratórias sobre as urnas eletrônicas. Ele mesmo, afinal, já disse que venceu uma eleição que considera enganosa porque teve "muito voto" em 2018.
Aliados
de Bolsonaro podem até manter a fantasia e alegar que a ameaça existe porque
seus adversários devem ampliar a falsa fraude na próxima disputa. O mais
provável, no entanto, é que o capitão tenha percebido que a conjunção de
fatores da última campanha pode não se repetir e que ele talvez não tenha
"muito voto" no ano que vem.
A
popularidade de Bolsonaro cresceu durante a pandemia. Os 37%
de aprovação registrados pelo Datafolha são confortáveis o
suficiente para levá-lo ao segundo turno, mas ele sabe que precisará atravessar
um ano pedregoso na economia para sustentar seus números.
O
presidente lança alertas a seus seguidores sobre os perigos da derrota para
evitar que eles se afastem. Com frequência, ele
se compara ao argentino Maurício Macri.
"O que o pessoal fez? Porrada nele o dia todo. O que aconteceu? Voltou a
‘esquerdalha’ da Cristina Kirchner", disse.
Na
reunião ministerial que expôs
as entranhas do governo, em abril do ano passado, Bolsonaro deu pistas
sobre seu temor em deixar o poder. "Se for a esquerda, eu e uma porrada de
vocês aqui tem que sair do Brasil, porque vão ser presos", declarou.
"E eu tenho certeza que vão me condenar por homofobia."
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