O Globo
O atual governo é amigo do agronegócio, a
Petrobras é administrada como uma empresa, o ministro da Economia é um campeão
da iniciativa privada, e na cidade de Três Lagoas (MS) há um elefante branco,
candidato a fóssil.
Com nome de vírus, é a UFN3, ou Unidade de
Fertilizantes Nitrogenados, projetada pela Petrobras para produzir ureia e
amônia suficientes para reduzir o gargalo das importações. Sua história
completou doze anos e retrata a bagunça da administração pública nacional, onde
todos têm razão, mas produzem maluquices.
As obras da UFN3, em terreno doado à
prefeitura, começaram em 2011, a cargo da empreiteira Queiroz Galvão e de um
consórcio chinês. A obra chegou a ter sete mil trabalhadores, mas os seus
responsáveis começaram a calotear fornecedores e operários, provocando greves e
até mesmo desordens. Em 2014, a Petrobras rescindiu o contrato com os
empreiteiros, e a obra parou, com 83% do serviço já concluído. Àquela altura, UFN3
já havia consumido cerca de R$ 3 bilhões.
Passaram-se três anos, e em 2017 a Petrobras anunciou que venderia a fábrica. Faltou combinar com o Supremo Tribunal Federal, e no ano seguinte o ministro Ricardo Lewandowski bloqueou o feirão das privatizações da petroleira. Em 2019, esse bloqueio foi levantado e começou a caça a um comprador, com uma novidade: a Petrobras anunciou que sairia do mercado de fertilizantes.
Quem quiser conhecer esse assunto saberá
que todas as partes tomaram as decisões certas e que todos tiveram suas razões,
mas a fábrica continuará lá, 84% concluída e inoperante.
Apenas por curiosidade, o general Silva e
Luna poderia mandar uma equipe de arqueólogos para pesquisar o caso da UFN3
para responder a algumas perguntas óbvias.
Por que não aparece comprador?
O preço está alto? Como ensinou o Conde
Francisco Matarazzo, preço de mercado é o que o freguês quer pagar.
Quando a Petrobras resolveu sair do mercado
de fertilizantes e vender a UFN3, usou a linda palavra “desinvestimento” para
justificar sua política. No entanto, desinvestir é uma coisa, fabricar micos é
outra.
Com sua paixão por afirmações apocalípticas
e pela transferência de responsabilidades, o presidente Bolsonaro disse em
novembro que “o governo está se virando atrás de fertilizantes” para evitar uma
crise de abastecimento e emendou:
“O
que é pior disso tudo, né: nós temos aqui potencial para isso tudo, mas o
potássio que está lá na foz do rio Amazonas... Aquela grande área está
demarcada como terra indígena.”
Os índios da foz do Amazonas têm pouco a
ver com isso. O mico da UFN3 está a 684 quilômetros de Brasília.
O BlackRock se fechou
O gestor do fundo de investimentos
BlackRock para a América Latina avisou que não botará dinheiro no Brasil
enquanto Bolsonaro estiver no Planalto. Com uma carteira de US$ 9,5 trilhões, é
o maior do mundo, opera em cem países com o olho em negócios de longo prazo.
O doutor Paulo Guedes talvez saiba que a
coisa é pior. Em outubro passado, o BlackRock cogitava sair do Brasil, com uma
terrível sinalização para o tal de mercado.
Quem quiser achar que isso é uma
gripezinha, que ache.
Amil à venda
Dez anos depois de ter entrado no setor de
saúde brasileiro comprando a Amil, a gigante americana UnitedHealth pagou R$ 3
bilhões para se desfazer de sua carteira de clientes individuais e está
negociando o restante da sua operação em Pindorama. Ela tem 5,7 milhões de
clientes e 19,5 mil colaboradores.
E ainda tem gente achando que empresas
estrangeiras fazem fila para operar no Brasil.
O bicentenário de Poyais
As flutuações do humor dos investidores
internacionais serão um fator relevante na campanha eleitoral deste ano. Até
que ponto o BlackRock não confia mais em Bolsonaro? Até que ponto desconfia de
Lula? Só eles sabem, mas neste ano do Bicentenário da Independência do Brasil,
não custa lembrar que se comemora também o nascimento de Poyais. Era uma nação
paradisíaca localizada na América Central, onde está hoje a República de
Honduras. Bolsonaro não se fez representar na posse de sua presidente.
Em 1821, um escocês chamado Gregor McGregor
lançou na praça de Londres papéis desse país. Em dinheiro de hoje, com
sucessivos lançamentos, recolheu o equivalente a US$ 5 bilhões. Entre setembro
de 1822 e janeiro de 1823, ele embarcou cerca de 250 imigrantes que receberiam
lotes de terra ou trabalhariam numa cidade que tinha até teatro de ópera. Um
deles seria o sapateiro da princesa local.
Os novos habitantes de Poyais encantaram-se
com a paisagem quando viram a costa. Ao desembarcar, em setembro, verificaram
que Poyais não existia. Era tudo mato e muitos mosquitos. O sapateiro da
princesa matou-se.
Alguns colonos regressaram a Londres e
contaram o que lhes aconteceu. Mesmo assim, McGregor fez um novo lançamento de
papéis e teve compradores.
O malandraço cometeu a imprudência de
lançar papéis em Paris e acabou na cadeia. Julgado, foi absolvido e voltou a
operar sem sucesso. Em 1838, estava na penúria e morreu sete anos depois.
Simone Tebet
Está em curso uma costura para fortalecer a
candidatura da senadora Simone Tebet (MS), que se lançou pelo MDB.
Com vinte anos de vida pública, ela depende
da indicação do seu partido e hoje falta-lhe o apoio de alguns caciques que já
estão no navio de Lula.
A singularidade da costura está no seu alcance,
pois ela se estende a um pedaço do tucanato, insatisfeito com a opção de João
Doria.
Tebet tem a seu favor o desempenho estelar
que teve na CPI da Covid.
Joaquim Barbosa
Noutra pista, costura-se a possibilidade de
uma candidatura do ex-ministro Joaquim Barbosa. Morreu no nascedouro a
possibilidade de ele apoiar o nome de Sergio Moro.
Se Barbosa vier a entrar na corrida, é
possível que Moro prefira concorrer a uma cadeira de senador.
Covid na China
Quem entende de China e conversou com o
chinês que entende de Covid ouviu que os rigorosos controles de isolamento não
serão atenuados antes de junho.
Covid nos EUA
Está pesando a barra para os americanos que
decidiram não se vacinar.
Há profissionais de saúde defendendo a
ideia de que eles sejam tratados em hospitais exclusivos, eventualmente, por
profissionais que também são contra as vacinas.
Delfim e Paulo Guedes
Em 1969, o professor Delfim Netto era um
desconhecido na elite do Rio e assumiu o Ministério da Fazenda. Aos 39 anos,
gordo e com o sotaque dos italianos do Cambuci, fantasiava-se de viúvo com
ternos pretos e camisas brancas. Dormia pouco e operava o dia inteiro. Nunca
incorporou uma única repartição, mas colocava gente sua onde podia. Três anos
depois, tornou-se o ministro da Fazenda mais poderoso da República.
Há três anos, Paulo Guedes aceitou a ridícula nobiliarquia de “Posto Ipiranga” e assumiu anexando quatro ministérios. Três anos depois, deu no que deu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário