O Estado de S. Paulo
Há menos tolerância dos investidores para perdoar
ataques à democracia ou crises institucionais
Quando
a guerra na Ucrânia estourou, muitos analistas atribuíram o aumento no fluxo de
capital estrangeiro para ativos brasileiros à fuga dos investidores da Rússia
em direção a uma grande economia emergente mais estável política e
institucionalmente. A mais recente crise entre o Palácio do Planalto e o
Supremo Tribunal Federal (STF) deve afetar essa visão favorável ao Brasil pelos
investidores globais.
Já
eram esperadas, em 2022, maior volatilidade e turbulência na Bolsa de Valores
brasileira e em outros ativos, como o câmbio, em razão das eleições
presidenciais. Esperava-se, contudo, que o nervosismo dos investidores com o
ciclo eleitoral fosse afetar o mercado brasileiro a partir de agosto, quando
normalmente a corrida presidencial pega fogo.
Mas, ao conceder indulto ao deputado Daniel Silveira (PTB-RJ), condenado a oito anos e nove meses de prisão, o presidente Jair Bolsonaro desafiou o STF e deflagrou uma crise sobre a qual, hoje, ninguém garante que o pior ficou para trás e a tensão acabou.
A
eleição é o pano de fundo do novo embate entre os poderes Executivo e
Judiciário. O perdão à pena imposta a Silveira foi claramente uma tentativa de
Bolsonaro em agradar à base mais fiel de apoiadores, num momento em que se
recupera nas pesquisas de intenção de voto.
Há
alguns meses, alguns investidores chegaram a defender a tese de que, em razão
da polarização consolidada entre Bolsonaro e o ex-presidente Lula, com uma
terceira via já considerada fora do baralho, a eleição deste ano talvez pudesse
não causar tanta volatilidade quanto nos pleitos anteriores, uma vez que os
dois candidatos que deverão disputar o segundo turno já são conhecidos do
mercado – em seus defeitos e qualidades.
A
tensão institucional causada pelo indulto mostra que uma parte do mercado foi
ingênua em crer que a queda forte do dólar até a semana passada não fosse ser
revertida mesmo com o início para valer da campanha eleitoral.
Mas,
daqui em diante, não se podem descartar atitudes radicais de Bolsonaro, com
ameaça de nova crise institucional, na tentativa de impedir sua derrota nas
urnas. Ou, caso seja derrotado, contestar o resultado das eleições para além de
duras críticas.
Além
disso, a sinalização de um ciclo mais agressivo de alta dos juros americanos
pelo Federal Reserve deve enxugar fortemente a liquidez internacional. Países
emergentes, como o Brasil, podem sofrer consequências com a saída de capital.
Ou seja, há menos tolerância dos investidores para perdoar ataques à democracia
ou crises institucionais.
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