De fato o nosso país, que tem uma grande
paisagem natural, costuma mostrar que está natureza variada e bela não é, como
diz o nosso hino nacional com otimismo, “de amor eterno seja símbolo”, que tem
nos faltado esse sentimento, por vezes indo a aspereza, dureza que franze a
testa ao Grande Número, justo nos momentos em que menos queremos: no verão.
A esse azedume que nunca foi nosso juntam-se
várias pragas e com o aumento do calor que as mudanças climáticas nos trazem,
contando também com a ajuda da negligência, do desleixo e do mal, surgem chuvas
e queimadas gigantescas e letais, catastróficas, para os quais nunca ninguém
está totalmente preparado, a despeito da sua previsão.
É também muito triste quando perdemos mentes como a do Samuel Pinheiro Guimarães Neto (1939-2024) e a de Luiz Jorge Werneck Vianna (1938-2024), personagem que a despeito de suas idades avançadas, continuavam a servir de forma importante a vida democrática do país.
Quando tudo isto se combina, dores privadas,
perdas e choques profundos que servem para nos recordar a fragilidade da
condição humana, o verão torna-se voraz. Mas não só o nosso verão está sendo
tenso, pois enquanto nós estamos no verão, no hemisfério norte estão em pleno
inverno e esse inverno também tem sido dificílimo, mas mais do que por
catástrofes naturais, tem sido por ação humana.
Na verdade, o mundo não vai bem, estamos
chegando ao 1.º ¼ do século XXI com um forte fosso entre o progresso científico
e tecnológico e um esvaziamento da democracia, da convivência social, da
tolerância e da densidade moral.
Vivemos duas guerras sangrentas, uma causada
pela cultura anacrônica czarista cuja ambição cresce cada vez mais e está
pronto para repristinar o poder da Rússia, para semear cadáveres na Ucrânia e
causar a morte dos seus adversários internos.
O conflito entre Israel e o Hamas surge hoje
sem solução, pois ao cruel e inaceitável terrorismo do Hamas juntou-se uma
resposta brutal e desproporcional do grupo da liderança israelita liderado por
Netanyahu, longe em tudo do espírito das bases fundadoras de Israel.
As vozes que exigem consideração não são
ouvidas, quer venham do Vaticano ou dos EUA, ou de qualquer outro lugar. Como
conseguir um mínimo de acordo entre duas realidades políticas que negam à outra
o direito de existir?
É muito desanimador olhar para um futuro em
que a situação atual poderá não só continuar, mas também piorar.
Quem em sã consciência consegue imaginar uma
situação como a atual em que, diante do autoritarismo, uma das democracias mais
antiga do mundo fosse governada por Trump?
Os países democráticos e a comunidade
internacional como um todo não podem parar de combater o desânimo, devem
trabalhar por uma solução pacífica e justa para as guerras em curso. Neste
cenário mundial, nós, brasileiros, devemos refletir seriamente sobre como viver
juntos.
É claro que habitamos um território complexo
e que exige muita resiliência, o que nos obriga a ter instituições fortes e que
funcionem.
Não podemos avançar com um conflito social
exacerbado. Com uma visão polar, concebendo o público e o privado, a criação de
riqueza e o bem-estar social como questões avessas. Ao longo desse caminho
tortuoso, o nosso potencial se recolheu.
Os problemas que enfrentamos inclusive o da
segurança pública são muito difíceis de enfrentar, ao mesmo tempo em que são
urgentes e complexos passa pela estrutura urbana e rural da polícia e da
justiça, passa por uma coordenação que não deveria estar sujeita ao interesse
político e imediato.
É importante e louvável a simbologia
republicana demonstrada pela nota de pesar do Presidente Lula com a perda do
ex-Presidente conservador Sebastián Piñera (1949-2024), do Chile, que não
deveria passar despercebida, exceto para aqueles para quem está simbologia não
faz sentido porque não se enquadra no seu fanatismo e mesquinhez.
A oposição faz um mau trabalho ao se
comportar atávica nas suas posições; a negação mútua de “sal e água” nunca
trouxe progresso e coexistência democrática em lugar algum e em qualquer tempo
histórico. É verdade que talvez seja tarde para que esta abordagem seja ouvida
porque o ambiente já começa a ser eleitoral e as eleições exigem que se
destaquem as diferenças, mas os partidos e os candidatos deveriam aprender a
olhar mais de perto as pesquisas de opinião que mostram uma ampla área a
meio-termo no país e que deseja ver avanços, mesmo que paulatinos e não
reconstrutivismos e/ou regressismos.
Quem sabe se o sucesso desta vez estará do lado de quem fala com sensatez, para o bem do Brasil.
*Presidente do Conselho Deliberativo da CEDAE Saúde e professor do Instituto Devecchi, da Unyleya Educacional e da UniverCEDAE.
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