O fato mais marcante que ainda teremos em 2024 são sem dúvida alguma as eleições americanas. As fragilidades pessoais expostas do presidente Joe Biden, após um bom governo, levaram Donald Trump, um ator político supostamente aposentado pela história, após a invasão do Capitólio e seus múltiplos processos no judiciário, a uma surpreendente posição de favoritismo nas eleições. A substituição da candidatura dos democratas por Kamala Harris zera o placar e recupera a competitividade do partido de Obama, Clinton e Biden.
A possível vitória de Trump terá profundas
repercussões para o Brasil e a realidade global. O nacionalismo populista
autoritário de Trump recrudescerá a postura protecionista dos EUA (o Brasil
exporta para lá produtos siderúrgicos, aeronaves, óleos brutos, celulose, café,
suco de frutas etc). Além disso, a radicalização da polarização com a China
certamente tensionará as relações internacionais e afetará o comércio
internacional. Outra repercussão, é a desestabilização da OTAN e da União
Europeia e o fortalecimento de Putin. Isto será muito ruim para a consolidação
da democracia em escala global, já que as potências líderes estarão sob o
comando de governos autoritários (EUA, Rússia e China). A luta pela
democratização de países periféricos como Venezuela, Cuba, Nicarágua, Coreia do
Norte, Irã, será enfraquecida. A vitória de Kamala Harris tem importância que
vai muito além das fronteiras dos EUA.
Nenhum vento de renovação soprará a partir da
Rússia e China. Enquanto isto, o único interlocutor que poderia ter assento
relevante nesta mesa, a Europa, é palco de sucessivos impasses políticos como
os vividos recentemente por Espanha, Portugal e França e o crescimento do
populismo autoritário de direita nas eleições para o Parlamento Europeu de
2024. Há um absoluto vácuo de lideranças do quilate de Ângela Merkel, Bill
Clinton, Obama, Tony Blair, Felipe Gonzalez, FHC, Mario Soares, Gorbachev.
Embora lideranças como Le Pen e Meloni tentem suavizar seus discursos para
ganhar o centro político, sua essência não tem raízes nos valores democráticos.
Órfãos da globalização abraçam alternativas exóticas com o França Insubmissa,
de extrema-esquerda, e a Alternativa para a Alemanha, de extrema-direita.
Mais do que nunca é imprescindível o diálogo
entre conservadores democráticos, liberais, centristas, social-democratas e a
esquerda democrática para a construção de pontes em favor da democracia e do
crescimento inclusivo e sustentável, e barreiras às posturas extremistas,
desestabilizadoras e temerárias.
Ao Brasil cabe manter a tradição de sua
diplomacia através de uma postura pragmática, não ufanista, soft power, sem a
busca de protagonismos irrealistas e alinhamentos equivocados. Ao mesmo tempo,
sem ambiguidades e tergiversações quando estiverem em jogo os valores da
democracia, da equidade social e da sustentabilidade ambiental.
Um comentário:
Vive em outro mundo, nem parece que é filho da pioneira mundial, Juiz De Fora. Deve ter sido doutrinado na UFJF.
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