sábado, 27 de dezembro de 2025

Os desafios de Lula em 2026. Por Idiana Tomazelli

Folha de S. Paulo

Governo precisa resistir à tentação de pisar no acelerador dos gastos federais

Farra em estados e municípios e situação ainda frágil de empresas estatais também trazem risco

O governo Lula (PT) chega às portas de 2026 em situação relativamente confortável, com economia crescendojuros ainda elevados, mas com perspectiva de queda, e avanço em medidas para recompor as finanças (como aumentos de tributos) e honrar promessas ao eleitorado (isenção de Imposto de Renda até R$ 5.000).

Nada disso anula os três principais desafios com os quais terá de lidar em ano eleitoral: a tentação de pisar no acelerador dos gastos federais, os riscos da gastança que estados e municípios já vêm produzindo e a situação ainda frágil de empresas estatais.

As pesquisas mostram, até aqui, favoritismo de Lula na corrida presidencial, mas até 4 de outubro muita água vai rolar. O risco é o presidente e seus auxiliares acionarem o botão de pânico em caso de ameaça à reeleição.

Um dispositivo incluído na Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2026 pela oposição, em acordo com o governo, veda a criação de novas despesas obrigatórias, renúncias e fundos para execução de políticas públicas. Pode ser uma primeira linha de defesa contra a tentação gastadora, mas dificilmente será suficiente. Caberá ao Ministério da Fazenda mostrar seu real poder de convencimento e evitar mais lenha na fogueira da dívida pública.

Nos estados e municípios, a farra de despesas já é uma realidade. Forrados de novas receitas e transferências de emendas, governadores e prefeitos assumem compromissos que podem ficar sem fonte de financiamento se a economia desacelerar. Para ajudar, o próprio governo federal deu um socorro mais do que generoso para estados endividados, liberando espaço para benesses. Se der errado, já sabemos quem pagará a conta.

Nas estatais, a falha de monitoramento desaguou em crise na Eletronuclear, que depende de dinheiro novo para sair do buraco, e nos Correios, cujo empréstimo bilionário está longe de ser um desfecho. É preciso persistir no ajuste prometido.

Será um ano decisivo, na política e na economia.

 

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