Dilma e Aécio fazem 2º turno e buscam aliança com Marina
• Caciques das duas siglas, como Lula e FH, são trunfos na negociação para tentar atrair PSB e ex-senadora
Chico Otavio, Fernanda Krakovics, Junia Gama, Maria Silva, Silvia Amorim e Simone Iglesias – O Globo
RIO, BRASÍLIA E SÃO PAULO - A presidente Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves vão protagonizar, a partir de hoje, a quarta disputa consecutiva entre PT e PSDB no segundo turno de uma sucessão presidencial. E ambos recomeçam a disputa correndo atrás do legado de 22 milhões de votos de Marina Silva (PSB), que pode ser decisivo no dia 26 de outubro. A importância de Marina pode ser medida pelas estrelas destacadas para convencê-la. Pelo PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique vai procurar a candidata para garantir o seu apoio a Aécio. Pelo PT, coordenadores do comitê eleitoral de Dilma defendem que Lula converse com a ex-senadora na tentativa de garantir, pelo menos,sua neutralidade, como na eleição de 2010. A abertura das urnas confirmou as eleições presidenciais de 2014 como uma das mais disputadas da História recente do país.
Com 99,8% dos votos apurados até as 22h33m, Dilma liderava a apuração, com 41,6% dos votos válidos, seguida de Aécio, que chegou aos 33,6% numa virada eletrizante sobre Marina. Mas os 21,3% obtidos pela candidata do PSB são, agora, o patrimônio mais cobiçado por tucanos e petistas. Resta saber se os votos de Marina são iguais aos votos do PSB ou a candidata é maior do que o partido. Marina faz mistério sobre o caminho a ser tomado, mas deu pistas de que a discussão sobre eventual apoio terá como base o programa de campanha herdado de Eduardo Campos.
Em seu discurso ontem à noite, a ex-senadora deu sinais de que a condição para fechar uma aliança passaria pela incorporação, por parte de Aécio, de pontos do programa de governo do PSB. O PSB pode tomar uma decisão sem esperar pela ex-senadora. Dirigentes do partido devem se reunir no início da semana para "tomar o pulso do partido e identificar qual será a tendência majoritária ". A neutralidade, dizem, está descartada. Aécio, apesar da empolgação com o resultado, entra no segundo turno amargando uma derrota em seu estado natal, Minas Gerais, onde o candidato do PT, Fernando Pimentel, elegeu-se governador no primeiro turno encerrando uma longa hegemonia tucana.
Mas o PT também viu o ex-ministro Alexandre Padilha, seu candidato ao governo de São Paulo, maior e mais importante colégio eleitoral do país, terminar a disputa — vencida por Geraldo Alckmin, do PSDB — com um pífio terceiro lugar. As mágoas provocadas pelos ataques no primeiro turno da disputa e o indisfarçável descompasso entre Dilma e os dirigentes do PSB serão os principais obstáculos a serem superados pelos dois partidos. Dilma passou o último mês e meio de campanha empenhada em desconstruir a imagem da adversária, a quem chegou a acusar de mentir e ter desvio de caráter. Mas Aécio também não foi amistoso com a ex-senadora, atacando-a por não ter deixado o PT quando o mensalão ganhava contornos de escândalo.
Alckmin, que tem vice do PSB, negociará apoio
Aécio, na entrevista coletiva de ontem, após a confirmação do resultado, fez publicamente uma homenagem póstuma a Eduardo Campos, morto no dia 13 de agosto. No primeiro dia de campanha no segundo turno, o tucano desembarca hoje na capital paulista para reunião coma coordenação da campanha. Alckmin fará aponte com lideranças do PSB no estado pela proximidade que tem com lideranças do partido. O vice de Alckmin é do PSB, Márcio França (PSB), e o prefeito mais importante do partido no estado é Jonas Donizete (Campinas), também muito próximo do governador. Numa eventual neutralidade de Marina, a campanha de Aécio espera que, ao menos em São Paulo, o partido marche com ele. Mesmo interesse existe em relação ao PSB de Pernambuco, onde uma declaração de voto da viúva de Campos, Renata, é um desejo de Aécio.
No estado, ele teve o seu pior desempenho no país. Já os petistas vão procurar o presidente do PSB, Roberto Amaral, que foi ministro de Ciência e Tecnologia no governo Lula. Amaral, que será reconduzido à Presidência do partido no dia 13, nunca escondeu a simpatia pelos petistas. Também serão visitados os governadores do Espírito Santo, Renato Casagrande, e da Paraíba, Ricardo Coutinho, além da família Capiberibe, do Amapá. Para além dos eventuais apoios amealhados para o segundo turno, a campanha de Dilma aposta que ela herdará naturalmente uma parcela de votos de Marina. Eles contam com eleitores tradicionais do PT, principalmente da classe C, que estavam com a ex-senadora, e com os eleitores mais à esquerda. — A Marina é outra espécie, ela é não é do nosso partido, é da Rede.
O PSB terá uma posição que não necessariamente será a mesma dela. Se for igual, melhor ainda. Mas ela pode querer fazer como fez em 2010 e o PSB não irá ficar neutro em uma eleição presidencial — afirma um integrante da cúpula socialista. Embora o vice de Dilma, Michel Temer, seja presidente do PMDB, a candidata petista também terá dificuldade na busca de apoio do partido. Ela não deve poder contar com setores do PMDB que apoiaram Marina no primeiro turno . Isso porque os peemedebistas do Rio Grande do Sul, Pernambuco e Mato Grosso do Sul, que estavam com a candidata do PSB, são oposição ao governo da presidente e têm afinidade com o tucano. No Rio, o grupo peemedebista que apoiou Aécio teve um bom resultado eleitoral e deverá intensificar o movimento Aezão, como ficou conhecida a campanha do tucano no estado .
Antes mesmo da divulgação do resultado, o senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), aliado de Marina, anunciou ontem apoio ao tucano, em texto repleto de críticas ao governo Dilma. "Hoje, o povo brasileiro referendou o caminho de mudança, ao levar o país ao segundo turno das eleições presidenciais. Não podemos titubear e nem nos dividir . (...) Aécio representa a possibilidade real de virarmos a página de um ciclo que se esgotou — socialmente , economicamente e politicamente ", diz texto.
Gilberto Carvalho já faz contatos com o PSB
A aposta do PSDB é que as negociações avancem com o coordenador da campanha de Marina, o ex-tucano Walter Feldman, e o vice-governador eleito de São Paulo, na chapa de Alckmin, Márcio França.—No segundo turno de 2010 , fui com o Feldman, em nome do Serra, falar com o Alfredo Sirkis e com o PV pedir o apoio da Marina. E o argumento que nós dois levamos era justamente deque era preciso a união das oposições para derrotar o petismo no poder. Espero que o Feldman tenha bem presente os argumentos que levamos a Marina, que acabou liberando o PV e ficando neutra.
Mas hoje a situação é outra e esperamos que a decisão seja outra — disse Aloysio Nunes,candidato a vice na chapa de Aécio. O ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral) telefonou após a consolidação do resultado para Amaral e pediu apoio do PSB à reeleição. Quanto a Marina, Carvalho afirmou que "naturalmente" dirigentes do PT e da campanha vão procurá-la.— Claro que vamos procurá-la. Falei com Amaral e ele quer construir um caminho conosco. Mas pediu calma e tempo para conversar com o partido — afirmou
PSB
A campanha de Dilma Rousseff buscará o apoio do PSB através de políticos próximos ao PT, como o presidente da sigla, Roberto Amaral, e de outros dirigentes socialistas, como o governador da Paraíba, Ricardo Coutinho, que enfrentará o tucano Cassio Cunha Lima no segundo turno.
Família de Eduardo Campos
Outro canal para chegar a Marina é a família do ex-governador, que até agosto era o candidato do PSB a presidente. Embora tenham se distanciado nesta campanha, Aécio mantinha boa relação com Campos. No PT, há defensores dessa reaproximação. Campos foi ministro de Lula.
Marina Silva
O PSDB vai procurar Walter Feldman, um dos políticos mais próximos à ex-senadora e que, até 2013, era deputado tucano.O s tucanos querem que o ex-presidente FH procure Marina.No PT, há quem defenda que Lula fale com ela para obter, pelo menos, sua neutralidade.
Pastor Everaldo
O candidato do PSC à Presidência tornou-se um radical opositor do governo do PT e também é considerado pelos tucanos como um apoio provável a Aécio Neves. Nos debates ocorridos neste primeiro turno, Pastor Everaldo aproveitou suas intervenções para atacar o governo Dilma.
Eduardo Jorge
O candidato do PV à Presidência foi secretário municipal de Meio Ambiente na gestão de José Serrana prefeitura de São Paulo e é um dos apoios que o PSDB buscará neste segundo turno. O verde também tem boa relação com Aécio Neves, de quem foi colega na Câmara dos Deputados.
PPS
Os tucanos dão como certo o apoio do PPS. O presidente nacional do partido, Roberto Freire, é crítico ferrenho do PT e das gestões petistas e, apesar de nesta eleição ter se aliado à candidata do PSB, Marina Silva, sempre teve relações próximas com o PSDB.
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