terça-feira, 7 de junho de 2016

‘Fui sacaneado’ por Dilma

Em delação, o ex-diretor Cerveró reafirmou que Dilma mentiu e que ela sabia de tudo sobre Pasadena.

Cerveró se diz ‘sacaneado’ por Dilma

• Em depoimento, ex-diretor diz que foi escolhido para ‘Cristo’

Carolina Brígido e André de Souza - O Globo

BRASÍLIA - Em depoimento da delação premiada, o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró disse que foi “sacaneado” e “jogado do fogo” pela presidente afastada, Dilma Rousseff. O desabafo foi feito quando Cerveró contava sua versão sobre a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, pela Petrobras.

Cerveró reclamou do fato de Dilma o ter responsabilizado pelas negociações. Ele também demonstrou decepção pela presidente, supostamente, não ter tomado providências para tentar libertá-lo da prisão.


— Meu filho falou: “Porra, pai, nós estamos sendo enganados”. Porque, porra, essa história de que “ah, que é amigo, os garotos, os meninos”. Primeiro que eu conheço a Dilma. E aí eu fiquei muito cabreiro. Embora eu conheça a intimidade da Dilma com o Delcídio, se a Dilma gostasse tanto assim de mim, ela não tinha me sacaneado, desculpe a expressão, há quase dois anos atrás, quando fugiu da responsabilidade dizendo que tinha aprovado Pasadena, porque eu não tinha dado as informações completas — disse Cerveró.

O delator reforçou sua versão de que Dilma “sabia tudo" sobre a compra de Pasadena, porque, na época, ela era ministra de Minas e Energia e presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Ele disse que a versão de Dilma é mentirosa porque, ocupando essa posição, ela certamente sabia de todos os detalhes da operação. Cerveró afirmou que a presidente viu nele “um Cristo” para tentar se livrar de qualquer responsabilidade.

— Ela me jogou no fogo, ignorou a condição de amizade que existia, que eu acreditava que existia — trabalhei com ela por 15 anos — e preferiu, para livrar, porque estava em época de eleição, tinha que arrumar um Cristo. Então: “Ah, não, eu fui enganada”. É mentira! É mentira. Dilma sabia de tudo, o tempo todo! E aliás, estatutariamente, a responsabilidade pela Petrobras e a aquisição de ativos pertence ao Conselho, do qual a Dilma era presidente.

Cerveró contou que Edson Ribeiro, o advogado que tinha contratado para defendê-lo, estava negociando a libertação com Delcídio. E que o exsenador teria ouvido de Dilma a promessa de tentar ajudar. Mas, essa ajuda não teria sido concretizada. O delator contou que pediu dinheiro a Delcídio, via Edson Ribeiro, para ajudar a família, já que seu dinheiro estavam bloqueados pela Lava-Jato. Ele negou, contudo, que tenha condicionado seu silêncio ao recebimento do dinheiro. O depoimento foi prestado em 30 de novembro de 2015 ao juiz Márcio Schieffler Fontes, que atua no gabinete do ministro Teori Zavascki, do STF.

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