Por Raymundo Costa | Valor Econômico
BRASÍLIA - Com seu idealizador preso em uma cela da Polícia Federal em Curitiba, o Centrão parece com os dias contados na Câmara dos Deputados, pelo menos na forma como foi configurado por seu mentor, Eduardo Cunha. É isso que representa o avanço da candidatura do deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) à presidência da Casa, em eleição marcada para o início de fevereiro. Ironia da história, Maia já integrou o elenco do Centrão, cujas cores na eleição são defendidas hoje pelos deputados Jovair Arantes (PTB-GO) e Rogério Rosso (PSD-DF).
Para se ter uma ideia do avanço de Rodrigo Maia sobre o que resta do poderoso Centrão da época de Cunha, basta dizer que 33 dos 37 deputados federais do PSD já fecharam com o candidato do DEM. Isolado, Rosso deve desistir da candidatura, cujo anúncio é adiado para que o deputado possa usufruir de alguma publicidade a mais, importante para uma sonhada candidatura ao governo do Distrito Federal. A bancada do PSD tem encontro marcado com Maia.
Maia é o candidato do Palácio do Planalto, que manobra à distância, mas já deixou claro que não vai apoiar os candidatos do Centrão - leia-se Jovair e Rosso. Interessa ao presidente Michel Temer a vitória de um candidato leal e comprovadamente engajado na causa das reformas econômicas, assim como o fim da hegemonia de um grupo capaz de dar as cartas na Câmara, como era o Centrão à época de Cunha. Mas não só a ele. Havia e há outros interessados em desconstruir o edifício de Eduardo Cunha, o que também ajuda a explicar o sucesso da empreitada.
Entre esses interessados estão os presidentes dos partidos que integram o Centrão, incomodados com a influência e a liderança que Eduardo Cunha exercia sobre seus comandados. Para ficar apenas no PSD, o ministro Gilberto Kassab (Comunicações), criador e presidente do partido, só agora começou a retomar o controle da legenda, que Eduardo Cunha havia praticamente tomado. Antes desavindo com Rodrigo Maia, o ministro se recompôs, ao se dar conta de que poderia eliminar a influência de Cunha, e já articula tendo em mente a reforma política e futuras fusões partidárias.
À esta altura, só uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) pode retirar Rodrigo Maia da presidência da Câmara. A ministra Cármen Lúcia deu dez dias para o pronunciamento da Câmara sobre a legalidade da reeleição de Maia. A Constituição prevê apenas um mandato de dois anos a cada quatro, o período de uma legislatura. A tese é forte, mas o governo e Maia acreditam que o tribunal considere a eleição um assunto da economia interna da Câmara. Pode ser. Mas o Supremo também tem elementos para barrar a candidatura.
Nesta hipótese, dois nomes começam a ser realçados ao fundo: o do deputado Antonio Imbassahy (PSDB-BA), já escolhido para ser ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República, e o deputado Heráclito Fortes (PSB-PI), amigo e aliado de Temer, um nome histórico do PMDB - era um dos integrantes da famosa "Turma do Poire", que se reunia em torno do deputado Ulysses Guimarães. Seja qual for a solução, Maia, Imbassahy ou Fortes, o Centrão, que já perdera substância com a falta de Cunha, certamente nunca mais será o mesmo que foi em 2015.
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