- O Estado de S.Paulo
Articulações para a eleição presidencial de 2022 já são intensas
A conversa entre os ministros da Economia, Paulo Guedes, e da Justiça, Sérgio Moro, num jantar no restaurante Avenida Paulista, às margens do Lago Paranoá, em Brasília, na noite de quarta-feira, traduz o momento político do País. O jantar deles ocorreu um dia depois da prisão de quatro pessoas apontadas pela Polícia Federal como sendo os hackers que invadiram os telefones de autoridades de todos os Poderes. Entre as vítimas do crime cibernético estariam o presidente Jair Bolsonaro e seus dois superministros, que se sentaram num local reservado para comer pizza, acompanhada de vinho para Moro e guaraná para Guedes, segundo relato da repórter Bela Megale, de O Globo, que numa mesa ao lado assistiu a tudo e ouviu cerca de uma hora de papo.
Dada a importância da prisão dos hackers para Guedes e Moro, e para o ministro da Justiça, principalmente, pois o vazamento de supostas mensagens trocadas entre ele, quando juiz, e a força-tarefa da Lava Jato levou ao questionamento sobre sua imparcialidade de magistrado e a outras dúvidas, a lógica seria que os dois centralizassem o assunto na operação da Polícia Federal que prendeu os criminosos. O que se ouviu, no entanto, foi Moro dizer: “Coloquei um Twitter para dar uma cutucada”, um tuíte no qual parabenizou a Polícia Federal, ainda na terça-feira. Seguida de um “fez muito bem” de Guedes.
Depois, a conversa variou para a sucessão de Bolsonaro, em 2022. Moro disse que não tem pretensões políticas, que pode passar quatro anos no governo e depois ir para a iniciativa privada e que o candidato será Bolsonaro. Note-se que Moro não falou na possibilidade de ser nomeado ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), compromisso que Bolsonaro teria com ele por ter deixado a carreira de magistrado para se tornar ministro da Justiça num momento em que o governo que iria assumir precisava encontrar nomes fortes para sua afirmação.
Quanto a Moro dizer que não tem pretensões políticas, as coisas não são bem assim. Desde que aceitou o Ministério da Justiça ele entrou para a política. É considerado um potencial candidato à sucessão de Bolsonaro, ou até mesmo para ocupar a vaga de vice, no lugar do general Hamilton Mourão. Só o fato de tratar da sucessão presidencial já mostra o quanto Moro está envolvido com a política.
Queiram ou não, ao redor da pizza estavam dois personagens que podem ser marcantes nas próximas eleições. Se a política econômica de Guedes der certo, e se a economia do País voltar a crescer e o desemprego diminuir, Bolsonaro ganhará força. O mesmo ocorre com o pacote anticrime de Moro. Sem falar que, como ministro da Justiça, ele tem condições de ajudar o nome de Bolsonaro a se firmar. Ou, quem sabe, até mesmo pensar na candidatura. Não é à toa que o PT tenta inviabilizá-lo agora.
Por falar em PT, o partido corre o risco de perder o bonde da História se insistir só nessa bandeira do “Lula livre”. À exceção do partido, não se vê uma mobilização forte pela libertação de Lula. Já o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), viu surgir a hora de trabalhar para se tornar um candidato que atraia também o centro. A movimentação dele nos últimos meses é de um candidato que busca ocupar o espaço no campo político da centro-esquerda. Tem mantido conversas constantes com representantes de partidos do centro. Suas costuras chegaram até o ex-presidente José Sarney, mais do que um adversário histórico. A eleição presidencial será em 2022. Mas as articulações seguem intensas. Ao término do jantar, Guedes se propôs a pagar a conta. O ministro da Justiça prometeu, segundo relato de Bela Megale: “A próxima pizza é minha”.
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