E
espere sentado porque, enquanto não for a hora certa, ele não cumprimentará
Biden
O
vice-presidente, general Hamilton Mourão, declarou que Jair Bolsonaro irá
cumprimentar o presidente eleito americano, Joe Biden, “na hora certa”.
Significa que, para Mourão, os líderes mundiais que ignoraram o esperneio de
mau perdedor de Donald Trump e reconheceram a vitória de Biden, como os
representantes de Alemanha, França, Reino Unido, Canadá, Índia, Israel,
Emirados Árabes, Irã, Iraque, Egito, Jordânia, Líbano, União Europeia, ONU,
OMS, Otan e até nossos vizinhos Argentina, Uruguai e Chile, fizeram isso na
hora errada.
Para
Mourão, especialista em dizer platitudes ao ser abordado em trânsito entre um
gabinete vazio e outro desocupado, Bolsonaro faz bem em “esperar que termine
esse imbróglio aí, de discussão, se tem voto falso, se não tem, para dar o
posicionamento dele”. Deve imaginar que Biden e os países mais adultos e
responsáveis estão esperando sentados, sem respirar, por Bolsonaro. E que,
quando ele falar, as relações entre Brasil e EUA tomarão seu caráter
institucional normal, como entre dois países com o mesmo peso.
Mas
não é assim, claro, ou Bolsonaro e seus zeros não teriam dedicado os últimos
dois anos a abjetos shows de subserviência diante de Trump —que, ao contrário
do que eles pensam, não foram recebidos com apreço pelo clown americano, mas
com o desprezo devido aos que rastejam diante do nhonhô. Se, como se diz, Trump
chama seus próprios seguidores de “otários”, imagine sua opinião sobre
Bolsonaro —se é que alguma vez este lhe veio à cabeça fora da agenda oficial.
Além
disso, Trump tem mais com o que se preocupar neste momento do que com o apoio
de remotos políticos bananeiros. Está consciente de que, assim que for
evaporado da Casa Branca, uma chuva de processos o espera na dona Justa.
Recomenda-se
a quem achar no lixo o boné de Eduardo Bolsonaro com os dizeres “Trump 2020”
que o deixe lá. Pode ter sido ele que deu azar.
*Ruy Castro, jornalista e escritor, autor das biografias de Carmen Miranda, Garrincha e Nelson Rodrigues.
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