Períodos democráticos foram poucos. De 1945
a 1964, tivemos a primeira experiência democrática. Ainda assim, os analfabetos
não votavam, o Partido Comunista foi colocado na ilegalidade, tivemos o
traumático suicídio de Getúlio Vargas, sucessivas tentativas de derrubar JK, a
renúncia de Jânio Quadros, o arranjo parlamentarista de 1962 e a queda de João
Goulart. Experimentamos 21 anos de governos autoritários.
Derivado da histórica campanha das Diretas-Já, assistimos o reestabelecimento da democracia com a vitória de Tancredo Neves no Colégio Eleitoral, em 1985, e a nova Constituição democrática de 1988. Esse ciclo sobrevive até hoje, representando os 36 anos mais livres e democráticos de nossa história. Ainda assim, tivemos diversas crises econômicas desestabilizadoras e dois impeachments, com o afastamento de Collor e Dilma. Agora, novamente o Congresso analisa a possibilidade de um processo de impeachment.
Até quando viveremos uma verdadeira
montanha russa política entre golpes e impeachments? O parlamentarismo, vigente
na maioria dos países de democracia avançada, foi derrotado nos plebiscitos de
1963 e 1993. A cultura política predominante no Brasil é personalista,
caudilhesca, centrada em personagens e não em partidos políticos e programas.
Recentemente, instalou-se a discussão sobre
o semipresidencialismo correlato às exitosas experiências da França e Portugal.
Diferente dos parlamentarismos da Espanha, Itália, Inglaterra, Alemanha, entre
outros, onde a dinâmica política é dada pelo Parlamento, o semipresidencialismo
reserva ao Presidente da República um forte papel, com o comando das Forças
Armadas e da política externa, capacidade de vetar e propor iniciativas legais,
indicar o primeiro-ministro, decidir por eleições ou por um novo primeiro
ministro no caso de queda do gabinete. O primeiro-ministro e a maioria
parlamentar seriam responsáveis pela gestão das políticas públicas de governo.
Obviamente, se adotado, só poderá sê-lo em
2027. Serão mais 4 anos de emoções fortes. As eleições de 2022 já seriam
realizadas sob as novas regras. Há méritos na proposta. Delinearia claramente
situação e oposição no Congresso, responsabilizaria o Parlamento em relação à
condução do país e evitaria as sucessivas crises turbulentas dos impeachments.
Mas
para isso algumas pré-condições são necessárias: i. existência de um quadro
partidário mais nítido e sólido; ii. fortalecimento da burocracia estatal, no sentido
weberiano, para assegurar a continuidade das políticas públicas; e, mudança do
sistema eleitoral na direção da lista partidária ou do voto distrital, para
permitir eleições rápidas em caso de queda do gabinete sem formação de nova
maioria congressual.
Sou parlamentarista de carteirinha. Mas, certamente, o semipresidencialismo proposto seria um enorme avanço.
*Marcus Pestana, ex-deputado federal (PSDB-MG)
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