Folha de S. Paulo
Votação para escolher candidato ao Planalto
tornou públicas as tradicionais puxadas de tapete dos tucanos
De quatro em quatro anos, os chefes do PSDB
se reuniam num
restaurante requintado qualquer para definir um candidato a
presidente. Invariavelmente, a decisão da cúpula criava divisões internas. Em
2006 e 2010, tucanos de
Minas Gerais fizeram corpo mole para apoiar Geraldo Alckmin e José
Serra. Na eleição seguinte, os paulistas deram o troco em Aécio Neves e, em
2018, políticos do partido abandonaram Alckmin para votar em Jair Bolsonaro.
O método de seleção do presidenciável mudou, mas a sigla tem tudo para enfrentar uma fratura exposta na próxima disputa. A votação aberta pelo PSDB para escolher seu candidato ao Planalto em 2022 antecipou e tornou públicas as conhecidas puxadas de tapete dos tucanos nas corridas eleitorais.
Nos últimos dias, os dois principais
postulantes à vaga trocaram acusações públicas de fraude. O comitê de Eduardo
Leite insinuou que o time de João Doria falsificou
a data de filiação de 92 prefeitos aliados para permitir que eles
votassem nas prévias. Os paulistas reagiram e alegaram que há indícios de que o
mesmo foi feito no
caso de 34 políticos que apoiam o gaúcho.
A batalha dá alguns sinais sobre os
caminhos do partido até a eleição do ano que vem. A briga por um punhado de
votos sugere que a disputa está mais apertada do que Doria gostaria de admitir.
Além disso, as divisões na sigla se aprofundaram tanto que há pedaços da
máquina partidária lambuzados na história.
As filiações contestadas têm cheiro de
maracutaia, e a própria suspeita tende a provocar danos políticos dentro da
legenda. Doria e Leite devem sair chamuscados do embate, com chances reduzidas
de darem as mãos até o início da campanha.
Caso Doria vença as prévias, ele concorrerá ao Planalto com o óbvio descontentamento de quase metade do partido —incluindo uma fatia da cúpula. Se Leite for vitorioso, uma ala interessada em abrir mão da candidatura presidencial deve sair fortalecida. Não há como o PSDB chegar inteiro a 2022.
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