Correio Braziliense
O racha no PSDB está escrito
nas estrelas, qualquer que seja o vencedor. Nem Doria nem Leite decolaram nas
pesquisas eleitorais, o que acirra o conflito
As prévias do PSDB são uma novidade na
política partidária brasileira, inclusive por concederem um protagonismo
inédito aos filiados e mandatários da legenda, que sempre resolveu suas disputas
por meio de acordos de cúpula costurados pelas suas lideranças históricas,
entre as quais o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o senador José Serra
(SP) e o senador Tasso Jereissati (CE). No domingo, serão as bases partidárias
— filiados, vereadores e prefeitos, deputados estaduais e federais, senadores e
governadores — que escolherão o candidato tucano à Presidência, entre os
governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS) e o ex-prefeito de Manaus
Artur Virgílio (AM). Mas é uma disputa fratricida, que dificultará sua
unificação e a atração de aliados tradicionais nas eleições de 2022.
O racha no PSDB está escrito nas estrelas, qualquer que seja o vencedor. Nas últimas semanas, o governador João Doria fez uma ofensiva partidária que o levou a quase todos os estados e promoveu uma disputa, homem a homem, na qual até os vereadores de pequenas cidades foram abordados pessoalmente por seus emissários. Por isso, agora, é o favorito, mas não por larga margem. Muitas lideranças tucanas apoiam Eduardo Leite, que teria até 37% dos votos já assegurados nas prévias.
Arthur Virgílio, uma liderança histórica,
dá sinais de que reserva para si o papel de pacificador do partido. Nem Doria
nem Leite decolaram nas pesquisas eleitorais, o que acirra o conflito. A dissidência
do ex-governador Geraldo Alckmin, cada vez mais próximo do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva, fragiliza Doria. O ponto forte do governador gaúcho,
Eduardo Leite, é o fato de ser uma novidade na cena nacional e ter apoio de
lideranças tucanas tradicionais, inclusive em São Paulo. Player na disputa
interna, o deputado Aécio Neves (MG), por exemplo, que apoia Leite, já ensaia
uma dissidência séria, após as prévias, arrastando a seção mineira em outra
direção, caso Doria seja o escolhido.
O governador paulista é um obstinado. Tanto
na eleição para a Prefeitura de São Paulo quanto na disputa do Palácio dos
Bandeirantes, Doria largou bem atrás dos concorrentes. Em 2015, era uma
novidade na política, com um perfil muito mais liberal do que social-democrata,
na verdade, um outsider na política tradicional. Ficou dois anos na prefeitura
da capital e, depois, disputou o Palácio dos Bandeirantes, embarcado na onda
que levou Bolsonaro ao poder, como a maioria dos candidatos tucanos, o que
explica a ambiguidade das bancadas do PSDB no Congresso em relação ao governo
Bolsonaro.
Pandemia
Com a pandemia, Bolsonaro e Doria se
digladiaram diariamente, por causa da política de isolamento social e das
vacinas, o que desgastou a imagem de ambos na opinião pública. Bolsonaro
apostou na “gripezinha” e na “imunização de rebanho” e quebrou a cara. Doria
adotou a política de isolamento social e resolveu o problema da produção de
vacinas, mas acabou desgastado por causa da “chatice” de suas entrevistas
coletivas, apesar das advertências de tucanos mais escolados nessas disputas.
Resultado: apesar de ser o grande artífice
da vacinação em massa no Brasil, com milhões de brasileiros beneficiados pelo
imunizante produzido pelo Instituto Butantan, a CoronaVac, até agora, Doria não
conseguiu capitalizar eleitoralmente esse feito. Chamado de “coxinha” pelos
petistas e “calça apertada” pelos bolsonaristas, virou um “chato” para muitos
eleitores. Agora, tenta resgatar a imagem de bom gestor para alavancar sua
candidatura presidencial. Nada disso, porém, o abala. Doria acredita que sua
candidatura se imporá pela competência administrativa e pelo posicionamento
claramente liberal, como nas duas eleições que venceu.
Eduardo Leite é suave, sai do Sul com um
discurso liberal na economia e identitário nos costumes; conversa com todo
mundo e tem no portfólio uma gestão fiscal competente, num estado estrangulado
por antigas dívidas. Caso vença as prévias, terá mais facilidades para fazer
alianças e disputar os votos do Sul do país, a base mais robusta de Bolsonaro.
Mas seu caminho não será tão livre como antes, por causa da candidatura do
ex-ministro Sergio Moro (Podemos). A tendência de Leite, caso perca as prévias,
não é concorrer à reeleição. Tentará fazer o sucessor e se preparar para 2026. Sua
ambição é a Presidência, mesmo que a candidatura seja adiada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário