quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Fernando Exman - Aposta na inação da Justiça Eleitoral impulsiona campanhas

Valor Econômico

Bolsonaro aproveitou-se da estrutura montada para a comemoração do Bicentenário da Independência e realizou dois atos de campanha

Mês passado, às vésperas do início da propaganda eleitoral no rádio e televisão, um aliado do presidente Jair Bolsonaro previu a interlocutores que não demoraria para que as candidaturas presidenciais lançassem mão de estratégias que sabidamente poderiam colidir com a legislação eleitoral. Seria inevitável, disse ele, que os postulantes ao Palácio do Planalto incorressem em alguma conduta questionável de forma consciente, com o simples propósito de produzir imagens para a campanha. O importante seria assegurar a produção de material audiovisual que pudesse ser veiculado pelo menos uma vez na TV e depois replicado, de forma incontrolável, na internet.

Em outras palavras, diante da perspectiva de que a Justiça Eleitoral pouco poderia fazer para impedir eventuais irregularidades ou até mesmo puni-las depois que elas fossem cometidas, os candidatos fariam um cálculo de custo-benefício e possivelmente escolheriam se arriscar. Foi o que se viu nesta quarta-feira.

Bolsonaro aproveitou-se da estrutura montada para a comemoração do Bicentenário da Independência e realizou dois atos de campanha, primeiro em Brasília e depois no Rio de Janeiro.

Na capital federal, até tentou se resguardar. Ou disfarçar. Ao deixar a tribuna de honra do desfile militar, retirou a faixa presidencial e subiu num carro de som como se isso pudesse demarcar a fronteira entre o ato cívico e o evento de campanha.

Impossível. O próprio desfile contou com um contrabando ideológico, ao apresentar bandeiras defendidas pelo presidente em sua campanha à reeleição como o “homeschooling”.

O evento também serviu para reforçar os laços do candidato à reeleição com o agronegócio e o eleitorado evangélico. E tornou-se plataforma para que Bolsonaro atacasse o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu principal adversário na disputa eleitoral e que é tratado cada vez mais como o inimigo a ser derrotado numa batalha do bem contra o mal.

No entanto, diferentemente do que se esperava há algumas semanas, Bolsonaro não partiu para o ataque frontal contra o Judiciário. Fez críticas indiretas ao Supremo Tribunal Federal (STF), é verdade, como quando repetiu o discurso segundo o qual é obrigação de todos jogar dentro das quatro linhas da Constituição. “Com uma reeleição”, afirmou o presidente em Brasília, “traremos para estas quatro linhas todos aqueles que ousam ficar fora delas”.

 

Ao ouvir em resposta vaias e xingamentos ao Judiciário por parte de seus eleitores, limitou-se a dizer: “A voz do povo é a voz de Deus”. Alguns de seus apoiadores pediam a destituição de ministros do Supremo e uma intervenção militar.

No Rio, não agiu de forma diferente. “Esperem uma reeleição para ver se todos não vão jogar dentro das quatro linhas da Constituição”, declarou, ameaçando enquadrar os demais Poderes.

Além disso, se por um lado andou acompanhado de Luciano Hang, alvo de operação autorizada pelo STF contra um grupo de empresários que trocaram mensagens defendendo um golpe de Estado em caso de derrota do presidente nas eleições de outubro, por outro o chefe do Executivo fez um aceno ao Judiciário ao não atacar a solidez do sistema eleitoral. Diferentemente do que vinha fazendo, o candidato à reeleição não falou das urnas eletrônicas.

Alguns de seus aliados vinham o alertando sobre o risco de seus discursos contra as urnas consolidarem a imagem de que estivesse com receio do resultado das eleições. Outra preocupação do grupo político do presidente era com a necessidade de rebater, com imagens, as pesquisas de intenção de voto que o colocam bem atrás de Lula.

Ao se apropriar das comemorações do bicentenário da Independência, Bolsonaro assumiu um risco calculado. Mais uma vez deixou de lado a institucionalidade e colocou em primeiro plano o seu projeto de poder.

2 comentários:

Anônimo disse...

Bolsonaro, o mesmo canalha de sempre! Pra ele, tudo gira em torno do seu umbigo e da sua bunda suja... Já sabemos a origem do seu fedor...

ADEMAR AMANCIO disse...

Não vi nenhuma imagem do desfile-comício.