terça-feira, 18 de outubro de 2022

Andrea Jubê - Pintou um clima de ‘flashback’ nas urnas

Valor Econômico

Em 2014, Dilma venceu em Minas, com o PT no governo

À medida que se aproxima o segundo turno, surgem semelhanças entre a reta final desta eleição presidencial e o pleito de 2014.

A disputa que opôs a presidente Dilma Rousseff (PT), em busca da reeleição, e o senador Aécio Neves (PSDB), foi uma das mais acirradas pós-redemocratização. Os candidatos chegaram às vésperas do segundo turno tecnicamente empatados. Num momento em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) comemora a reação da economia e a melhora na avaliação do governo, com expectativa de conversão desse sentimento em mais votos, não é temerário afirmar que ele e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) podem chegar no dia 30 num cenário de empate técnico, tal qual Dilma e Aécio.

Alguns institutos de pesquisa já indicam essa conjuntura, a se considerar a margem de erro. O levantamento do Ipec divulgado ontem confirmou a tendência de crescimento de Bolsonaro, que oscilou de 42% para 43% das intenções de voto em uma semana, enquanto Lula caiu um ponto percentual. A dúvida é se haverá tempo hábil para Bolsonaro superar o petista, que ainda lidera a corrida sucessória.

Na comparação com 2014, uma das vantagens de Dilma em relação a Bolsonaro - considerando que ambos detêm a máquina pública em mãos - era a taxa de rejeição. Segundo o Datafolha, a cerca de duas semanas do segundo turno, 38% dos eleitores rejeitavam a petista. Pelo mesmo instituto, 51% declaram não votar no presidente.

Naquele ano, o impasse desfez-se na undécima hora, após um suspense de tirar o fôlego de quem acompanhou a apuração minuto a minuto. O tucano largou à frente, mas foi ultrapassado pela adversária na reta final da totalização, quando as urnas começaram a computar os votos da região Nordeste, que sempre são os últimos.

Um diretor de um instituto de pesquisa prevê igual suspense no dia 30. O cálculo é de que Bolsonaro vai liderar a contagem dos votos nas primeiras três horas de apuração, até que as urnas comecem a contabilizar os votos dos nordestinos.

Os brasileiros experimentaram essa emoção no primeiro turno. Bolsonaro manteve-se na dianteira nas primeiras três horas, até 20h02, quando começou o registro dos votos do Nordeste. O petista o ultrapassou com 70% dos votos apurados. Ao fim, Lula demarcou uma vantagem de 6 milhões de votos sobre o presidente.

Em 2014, Dilma obteve 54,5 milhões dos votos válidos (51,6%), contra 51 milhões (48,3%) de Aécio. Venceu com uma margem apertada de 3,5 milhões de votos, ou 3,3 pontos percentuais. O placar levou o PSDB a pedir a recontagem dos votos, irritando autoridades da Justiça Eleitoral. Em novembro de 2015, um relatório de auditoria encaminhado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) atestou a ausência de fraude e a lisura do pleito.

Em meio ao silêncio dos militares, persiste o receio de que, na hipótese de um resultado adverso, Bolsonaro repita o gesto de Aécio, mas com muito mais alarde, diante do esperado barulho da turba bolsonarista.

No front petista, o esforço é para Lula repetir ou melhorar os resultados de Dilma em 2014: ela venceu em todos os Estados do Nordeste, e nos maiores eleitorados da região Norte. Perdeu em São Paulo, mas compensou a derrota com a vitória no Rio de Janeiro e em Minas Gerais.

O desempenho de Bolsonaro no primeiro turno evoca o de Aécio: ambos venceram em todos os Estados das regiões Sul e Centro-Oeste. O resultado do tucano em São Paulo é a ambição da campanha bolsonarista: Aécio obteve 64,3% dos votos dos paulistas, e Dilma terminou com 35,6% - uma expressiva diferença de 29 pontos percentuais. Porém, que se mostrou insuficiente para amortecer a vantagem da petista no Nordeste, Rio e Minas.

O ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, disse ao Valor na quinta-feira esperar que a vantagem de Bolsonaro sobre Lula em São Paulo chegue agora a 20 pontos percentuais. Na primeira etapa, o presidente terminou na frente com uma margem de 7 pontos percentuais.

Assim como em 2014 o resultado em Minas Gerais foi decisivo para a vitória de Dilma, o Estado - que é o segundo maior colégio eleitoral - é de novo estratégico neste ano. Lula venceu Bolsonaro em Minas com uma vantagem de 600 mil votos, e o desafio agora é manter o resultado, ou ampliá-lo.

Naquele pleito, a vantagem de Dilma Sobre Aécio foi de 500 mil votos. Foi uma vitória simbólica, porque o tucano havia sido duas vezes governador, e perdeu em sua base eleitoral. No entanto, Dilma dispunha de um trunfo que Lula não tem: a força eleitoral do petista - e seu amigo pessoal - Fernando Pimentel, que havia sido eleito governador no primeiro turno.

Passados oito anos, o cenário inverteu-se, e é Bolsonaro quem tem o governador reeleito Romeu Zema (Novo) como cabo eleitoral. Na sexta-feira, Zema reuniu centenas de prefeitos para pedir apoio e votos a Bolsonaro. Seriam 600 prefeitos, segundo fontes do governo mineiro.

Aliados de Lula no Estado, entretanto, não veem uma transferência automática de votos de Zema para Bolsonaro. Lula foi o mais votado em 630, de um total de 853 municípios mineiros. Há uma leitura de que os prefeitos desses municípios, muitos de olho na reeleição em 2024, não pretendem se expor pedindo votos ao presidente, se a maioria dos seus eleitores já demonstrou preferência pelo petista no primeiro turno. Os votos “Luzema” foram contabilizados em 436 cidades.

Uma fonte que acompanha há anos as disputas mineiras relembrou que em 2018, o então senador Antonio Anastasia (hoje ministro do Tribunal de Contas da União), que concorria ao governo mineiro pelo PSDB, formalizou o apoio de 650 prefeitos para sua campanha. Apesar do apoio oficial desses prefeitos, Anastasia acabou derrotado pelo estreante Romeu Zema.

Além de vencer em Minas, Lula precisa reduzir a vantagem de Bolsonaro no Rio de Janeiro, que foi de 1 milhão de votos. Para isso, o PT conta com o prefeito de Belford Roxo, Waguinho, liderança da Baixada Fluminense, como cabo eleitoral. Não se cogita repetir Dilma, que venceu no Estado, na era pré-bolsonarista. O que se vê, em síntese, é que pintou um clima de “flashback” em relação a 2014 nesta eleição.

2 comentários:

Anônimo disse...

A vantagem de Lula sobre Bolsonaro era bem maior que a de Dilma sobre Aécio. E tem se mantido com pouca variação, segundo a grande maioria das pesquisas de distintas instituições! É até possível que Bolsonaro consiga reduzir um pouco a diferença de MAIS DE 6 MILHÕES DE VOTOS, mas é muito difícil que ele reverta esta BOA VANTAGEM DE LULA, ainda mais com os seguidos apoios que Lula tem obtido (FHC, Ciro Gomes, Simone Tebet, economistas pais do plano Real, Joaquim Barbosa e outros ex-presidentes do STF, João Amoêdo, etc.) - são muitos apoios de centristas e até meio direitistas, que mostram maior aceitação de Lula entre pessoas destes tipos de ideologia! Ou seja, CERTAMENTE LULA ESTÁ AMPLIANDO SUA VOTAÇÃO! Aproximando-se muito ou já ultrapassando os 50% mais 1 voto que precisa pra vencer (lembrando que ele já tinha mais de 48% no primeiro turno).

ADEMAR AMANCIO disse...

Jesus na causa,e que Deus abençoe a todos.