Folha de S. Paulo
Seletividade de governos em relação a
direitos humanos reduz confiança em instituições responsáveis por protegê-los
Relatório da ONG Human Rights Watch (HRW) afirma que a seletividade com que governos
tratam direitos humanos mina a confiança nas instituições responsáveis por
proteger esses direitos. Não vejo como discordar.
Líderes globais são rápidos em denunciar violações cometidas por países com os
quais têm diferenças, mas mostram tolerância inesgotável para com abusos perpetrados por
nações amigas. "Quando governos condenam veementemente os crimes de guerra
do governo de Israel contra civis em Gaza, mas silenciam frente aos crimes
contra a humanidade do governo chinês em Xinjiang, ou exigem punições internacionais
em relação aos crimes de guerra russos na Ucrânia ao mesmo tempo que minimizam
a responsabilização dos EUA pelos abusos no
Afeganistão, enfraquecem a crença na universalidade dos direitos
humanos e na legitimidade das leis destinadas a protegê-los", diz a HRW.
Na mosca. O nome disso é hipocrisia e, como
já ensinava La Rochefoucauld, hipocrisia é a homenagem que o vício presta à
virtude. Cabe a ONGs, à mídia independente e a quem mais quiser apontar as
contradições dos governantes e cobrar-lhes coerência. Mas não devemos ser
ingênuos a ponto de achar que isso muda o jogo. Lidamos aqui com alguns dos
mais profundos vieses humanos, que não serão revertidos com lições de moral.
O interessante é que, apesar dessa falha catastrófica, o sistema funciona. A
analogia aqui é com a ciência. O ideal seria que cientistas, em nome da
autocorreção, procurassem obsessivamente falhas em suas teorias e experimentos.
No mundo real, porém, cientistas tendem a defender e não atacar suas próprias
ideias. Erros e imprecisões costumam ser descobertos por grupos rivais. E é o
que basta. O importante é que os desacertos sejam apontados, não importa tanto
por quem.
Continuando com La Rochefoucauld, "a opinião que nosso inimigo tem de nós
está mais perto da verdade do que a nossa própria".
2 comentários:
Excelente!
Exatamente!
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