domingo, 4 de fevereiro de 2024

Bernardo Mello Franco – O jogo de Lira

O Globo

Presidente da Câmara boicota solenidades para elevar pressão sobre o governo; deputado quer a cabeça de Alexandre Padilha, articulador político de Lula

Os apelos pela pacificação nacional não sensibilizaram Arthur Lira. Na quinta-feira, chefes dos Três Poderes se juntaram para retirar as grades que bloqueavam o acesso ao Supremo. Faltou alguém na foto: o presidente da Câmara, que preferiu antecipar o fim de semana em Alagoas.

Desde o início do ano, Lira busca se fazer notar pela ausência. Em 8 de janeiro, foi a única autoridade graúda que não participou do ato para celebrar a vitória da democracia sobre a ameaça golpista. Desfalcou uma solenidade realizada no Salão Negro do Congresso, a poucos metros de seu gabinete.

Na quinta-feira, o chefão da Câmara boicotou mais duas cerimônias que atraíram a elite do poder em Brasília: a abertura do ano judiciário e a posse do novo ministro da Justiça, no Planalto. Os eventos reuniram os presidentes da República, do Senado e do Supremo.

Lira quer mostrar que está invocado. Mais do que isso: quer transformar sua birra em preocupação da República. O mau humor do deputado não deveria interessar a ninguém, salvo por um detalhe. Em recados nos bastidores, ele ameaça torpedear o governo se suas exigências não forem atendidas.

A lista do chefão da Câmara é extensa. Além de pressionar por mais cargos, Lira cobra a devolução de R$ 5,6 bilhões em emendas de comissão, cortados por Lula; a demissão do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha; e o apoio do presidente ao candidato que ele indicar para a própria sucessão, em fevereiro de 2025.

A carga contra Padilha não é só por antipatia pessoal. Lira quer recuperar o monopólio sobre a partilha e a liberação de emendas. O controle do dinheiro era a principal fonte de seu poder no governo Bolsonaro. Na gestão Lula, o Planalto voltou a ter balcão próprio para negociar com os parlamentares.

Em 2023, o chefão da Câmara manteve o governo sob tensão permanente. Deu declarações ameaçadoras, travou votações e quase implodiu a medida provisória que reorganizou a Esplanada. Com a faca do pescoço do presidente, arrancou o comando de dois ministérios e da Caixa Econômica Federal.

Pupilo de Eduardo Cunha, Lira aprendeu a nunca se dar por satisfeito. Ao que tudo indica, voltará do recesso com apetite renovado.

O inferno de Moro

O julgamento no TRE do Paraná não é a única ameaça iminente à sobrevivência política de Sergio Moro. Até março, o Conselho Nacional de Justiça deve concluir a correição na 13ª Vara Federal de Curitiba. O ex-juiz pendurou a toga, mas ainda pode ser punido com a inelegibilidade por oito anos. O CNJ já concluiu que houve “gestão caótica” de recursos arrecadados na Lava-Jato.

O capitão e a baleia

A Polícia Federal obrigou Carlos Bolsonaro a depor por causa de um tuíte. Agora Jair deve ser ouvido por suspeita de importunar uma baleia em passeio de jet ski. Não faltam motivos justos para investigar o capitão e seus filhos. Se forçar a mão, a PF pode presenteá-los com a aura de perseguidos.

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