Folha de S. Paulo
Sem filhos, afrodescendente e solteira até os
49, vice passou a ser alvo de ataques da direita
Kamala Harris não
tem filhos, logo não deveria ser presidente. Este argumento será usado se a
atual vice de Joe Biden for
confirmada como
candidata democrata. Assim que seu nome passou a ser endossado por figuras
importantes do partido, a direita começou atacar sua capacidade por ela não ser
mãe.
Pelos quesitos ultraconservadores, Kamala zerou no bingo.
Afrodescendente, filha
de imigrantes, criada pela mãe, uma ativista de direitos humanos, não tem
filhos biológicos, foi solteira até os 49 anos. Para completar a tragédia do
sonho da família americana, Kamala se casou com o advogado Doug Emhoff, que,
por sua vez, deu uma pausa na carreira. Ou seja, virou dono de casa, para o
desespero dos machos provedores e das "tradwives"
(esposas tradicionais), que juram que submissão está na moda.
O discurso de que o partido Republicano é o
único pró-família não é novo, assim como o uso eleitoral do estado civil
feminino. O vice de Trump, J.D. Vance,
quando candidato ao Senado, disse que o país era governado por um bando de
oligarcas corporativos e por um bando de mulheres sem filhos e com gatos. Um
dos alvos era Kamala Harris.
O que Vance, Trump e
os conservadores parecem ignorar é que o perfil da americana média mudou.
Casa-se cada vez mais tarde, investe na carreira, tem menos filhos — ou não os
tem. Desde 1980, as mulheres compareceram em taxas mais altas do que os homens
em todas as eleições presidenciais dos EUA e fizeram a diferença em
estados-chave, em 2020.
Especialmente as solteiras são críticas e
refratárias a candidatos com visão e atitudes machistas, e sua agenda política
guiará o processo eleitoral. Eles deveriam se lembrar do que Joe Biden disse no
seu último
discurso do Estado da União, ao falar sobre a revogação do aborto pela
Suprema Corte: "Aqueles que se gabam de ter derrubado Roe v. Wade não têm
ideia do poder das mulheres na América."
Um comentário:
Tomara.
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