quinta-feira, 8 de outubro de 2009

"Zelaya se deslumbrou com Chávez"

Entrevista
Da enviada a Tegucigalpa
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


Uma das posições mais duras de dentro do governo interino de Honduras vem de uma mulher, a vice-chanceler Martha Alvarado. Conselheira do presidente golpista, Roberto Micheletti, a diplomata e deputada pelo Partido Liberal -o mesmo de Zelaya- diz que trabalhou e deu apoio ao presidente deposto até que ele "se deslumbrou" com Hugo Chávez, presidente da Venezuela, e tentou implantar políticas semelhantes no país. (AF)

FOLHA - Por que retirar Zelaya da Presidência?

MARTHA ALVARADO - O que fizemos nos salvou de um experimento social ao estilo da Venezuela, ao qual meus filhos e meus netos estariam expostos. Não quero para meus filhos uma situação errática como a que Chávez instalou na Venezuela. Eu sou liberal, do partido de Zelaya. Eu segui Zelaya dentro de uma ideologia liberal de respeito às pessoas, de respeito à democracia, de respeito às instituições. Zelaya, no meio do caminho, se deslumbrou com Chávez. Não gosto de alguém que diz uma coisa antes de chegar ao poder e, quando chega lá, seu compromisso começa a ser mais com Chávez que com seu próprio partido.

FOLHA - Por que não resolver a questão no Congresso?

ALVARADO - Zelaya não respeitou as leis, não respeitou a Corte Suprema. Fez tudo isso rodeado por um grupo que buscava fazer uma Constituinte, coisa que é proibida. O pecado mortal foi que o homem foi tirado do país. Por que se fez, não sei, eu não estava lá quando fizeram. Pode ser porque as prisões aqui são ruins e ele estaria exposto a ser morto. Em sua casa, cercada como está a embaixada, iria causar confusão pública. E se os militares o levassem a um lugar seguro, diriam que o raptaram.

FOLHA - Por que é contra a volta dele para uma transição?

ALVARADO - A força política de Zelaya não é hondurenha, sua força política é Chávez. Nós não o queremos no poder nem por um dia, porque tem muito dinheiro. Queremos que a comunidade internacional desista do processo de reinstalar Zelaya e veja outra alternativa, que é o processo eleitoral, no qual todas as ideologias estão representadas e o grupo de Zelaya tem dois candidatos.

FOLHA - A senhora é a radical do governo?

ALVARADO - Digo o que penso. Se isso é ser radical, assim sou. Sou uma apaixonada, pareço brasileira.

FOLHA - O que diz ao Brasil e aos brasileiros?

ALVARADO - Que é um país lindo. E que não se metam em Honduras.

FOLHA - Mas já estão na crise.

ALVARADO - Sim, se meteram... Que pena, que saiam, então.

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