terça-feira, 22 de novembro de 2011

Volta a tensão entre o PMDB e o Planalto:: Raymundo Costa

Incomoda o PMDB, talvez até mais que o PT, o jogo do governador de Pernambuco e presidente do PSB, Eduardo Campos, em relação ao futuro da aliança formada em torno do governo Lula, ao longo de seus dois mandatos, e até agora mantida no condomínio político da presidente Dilma. À medida que Campos se torna uma referência nacional, diminui o poder pemedebista na base de sustentação.

O PT também demonstra apreensão porque o avanço do PSB e o crescimento da influência de Campos na coligação podem, mais adiante, ameaçar a hegemonia do partido no vasto espectro político, à esquerda, que se reuniu em torno do lulismo. O PT sempre foi indiscutivelmente o sócio majoritário, com muita folga, mesmo quando fazia oposição ao governo do PSDB.

O PMDB monitora o avanço eleitoral do PSB e a movimentação Campos no jogo da base aliada por motivos mais imediatos.

A dúvida que causa inquietação na cúpula pemedebista é se o avanço do PSB - que é real, como demonstram os números das últimas eleições - e a autoafirmação de Campos como uma referência, entre os aliados, estão sendo ou não manipulados por Dilma para manter sob rédea curta o maior partido da coligação que elegeu a presidente.

Nas eleições de 2010, o PSB levou os governos de seis Estados; o PT, de cinco. Os dois partidos entram na disputa de 2012 com quatro e sete prefeitos de capital, respectivamente. O PSB tem Belo Horizonte, Boa Vista, Curitiba e João Pessoa; o PT, Fortaleza, Goiânia, Palmas, Porto Velho, Recife, Rio Branco e Vitória. A aliança do PSB com o PSD do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, assombra tanto o PMDB quando o PT.

Campos deu uma demonstração de força quando elegeu a mãe, Ana Arraes (PSB-PE), para o cargo de ministra do Tribunal de Contas da União (TCU), numa eleição que, de início, parecia fava contada em favor do deputado e hoje ministro do Esporte, Aldo Rebelo (PCdoB-SP). A movimentação de Eduardo Campos para mudar votos dos deputados-eleitores foi ostensiva e muito bem sucedida.

Paranoia ou não, uma parcela da cúpula pemedebista entende que o Palácio do Planalto usa o crescimento político do PSB e de Eduardo Campos como uma ameaça à manutenção do PMDB como parceiro prioritário do PT. Na realidade, a cúpula do PMDB reconhece o poder de fogo do governador de Pernambuco sem precisar que o Planalto fique chamando a atenção da sigla para o que ela considera manobras de aluvião, que podem ser claramente identificadas a olho nu.

A tensão entre o Planalto e o PMDB se estabeleceu logo após a votação, na Câmara dos Deputados, do projeto de prorrogação da Desvinculação de Receitas da União (DRU), cuja aprovação o governo considera fundamental. O PMDB atendeu quase que integralmente ao pedido da presidente Dilma Rousseff. No dia seguinte, esperava ouvir elogios e receber afagos da presidente pelo comportamento exemplar da bancada de deputados.

Num tom de camaradagem que na verdade esconderia uma ameaça, segundo o entendimento disseminado no partido, o que Michel Temer, vice-presidente da República e presidente licenciado do partido, e o deputado Henrique Alves, líder da bancada na Câmara, ouviram fez o PMDB acender o sinal amarelo.

Resumidamente, o recado que o PMDB entendeu como ameaça - mas foi dito como uma advertência amiga ao companheiro de chapa - dizia que Eduardo Campos não faz segredo de que seu compromisso no PT é com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que pode ser o candidato a vice na chapa do PT em 2012 (no lugar de Michel Temer) e é candidato a presidente em 2018.

Os líderes congressistas, em geral, reconhecem o potencial do governador Campos, à medida que passaram a considerar que a alternativa de poder, nas próximas eleições, ainda está dentro das bases do lulismo e não da oposição (leia-se Aécio Neves, do PSDB). Eduardo e Aécio, entre outros, formam a geração pós-1968, que chegou ao poder com a presidente Dilma Rousseff.

A prioridade do PMDB para 2012 é a reedição da aliança com Dilma, mas há novamente desassossego no partido. Já havia na montagem do ministério da presidente, no qual o partido se julga mal representado, detentor de pastas com pouco poder de fazer votos, ao contrário do que ocorria no governo Lula. Agora, instalou-se a dúvida: a versão palaciana sobre a movimentação de Campos é verdadeira ou um recado para o PMDB se comportar como vem se comportando nas votações, sob pena de perder o que tem no governo de Dilma?

A resposta talvez só venha na reforma ministerial prevista para o início do próximo ano, na qual poucas peças realmente importantes devem ser deslocadas. Até lá, pelo menos, o PMDB marca a coluna segundo a qual Dilma quer um PMDB dócil aos comandos do Planalto, e aparentemente dispõe dos instrumentos para atingir esse objetivo, como a ameaça Eduardo Campos.

Um exemplo: o aumento da influência de Eduardo Campos e a aliança tácita do PSB com o recém-criado PSD podem concretamente colocar em risco a eleição do líder Henrique Alves à presidência da Câmara, o principal objetivo do PMDB na área legislativa, a curto prazo, e uma costura já feita com o PT.

A presidência da Câmara e a manutenção dos atuais ministérios em poder do partido não satisfazem o PMDB. Michel Temer e Henrique Eduardo Alves conseguiram, até agora, que o PMDB mantivesse um alto índice de fidelidade ao governo, nas votações da Câmara. Em setembro, o percentual de lealdade era de cerca de 80%. A aposta é que nem Temer nem Henrique serão capazes de manter a ordem unida (ou quase), se a desconfiança pemedebista ganhar contornos reais no horizonte. Em 2012, tudo pode ser diferente.


FONTE: VALOR ECONÔMICO

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