quinta-feira, 26 de julho de 2012

Eleição e gênero:: Tereza Cruvinel

Na primeira eleição com uma mulher na Presidência da República, as candidaturas femininas terão o maior crescimento da história, desde 1934, quando as mulheres conquistaram o direito de votar e ser votadas. Nos último pleitos, o número de mulheres candidatas cresceu pouco e o número de eleitas foi decepcionante. Isso colocou em cheque a eficiência da cota de gênero imposta aos partidos e exigiu uma mudança de redação que, certamente, teve um peso decisivo para este desempenho, afora a contribuição simbólica, que não pode ser aferida, da presença de Dilma no Planalto.

As candidaturas femininas registradas este ano, para os dois cargos, totalizam140.418, o que representa um aumento de 73% em relação a 2008, quando foram 81.251. Com um número maior de candidatas crescem as chances de um aumento no número de eleitas. Até 2009, a regra da cota mandava que os partidos reservassem 30% das vagas de candidatos em eleições proporcionais (vereadores, deputados estaduais e federais) para as mulheres. Os partidos reservavam as vagas mas nem sempre as preenchiam. Segundo seus dirigentes, por desinteresse e baixa procura. Com mudança de redação, eles passaram a ser obrigados a preencher tais vagas.

Uma das razões do "desinteresse" tem a ver com o custo e o financiamento de campanhas. As mulheres, ainda novas na política, têm menos intimidade com os caminhos secretos das doações eleitorais. Os financiadores, por sua vez, gostam de apostar em "cavalos vencedores", candidatos que tenham um mandato, pelo menos, e grandes chances de reeleição. Com campanhas pobres e amadoras, feitas muito com empenho e pouco marketing, as mulheres têm mais dificuldades para se eleger. Somos mais cautelosas, sabemos calcular chances e riscos. Por isso, para preencher as vagas da cota feminina, alguns partidos, este ano, ofereceram alguma ajuda financeira com os recursos do fundo partidário.

A maior participação este ano continua refletindo, porém, uma distorção. As mulheres disputam muito mais a eleição proporcional que a majoritária. Entre os candidatos a prefeito, elas somam apenas 12,47% (1.909). Já as que disputam cadeiras de vereadoras são 84.792, representando 31% do total, contra 22% em 2008. E surgem também curiosas ilhas de "hegemonia local feminina". Segundo o TSE, em 45 municipios, só concorrerão candidatas mulheres.

Mesmo assim, há muito caminho pela frente. Neste Brasil que é BRICs, player luzente e sexta maior economia do mundo, a participação feminina na Câmara é de apenas 8%. Um 106º lugar mundial, com o Brasil vergonhosamente atrás de alguns países da vinhança latino-americana e até mesmo da África.

Primeiros atos

Congresso em recesso, presidente viajando, atenções se voltando inteiramente para o julgamento, pelo STF, do caso mensalão, que advogados e juristas chamam de "Ação Penal 470", a partir do próximo dia 2. Muito provavelmente, o espetáculo atravessará agosto e entrará outubro adentro, aproximando-se do dia da eleição, para desgosto do PT e de outros partidos envolvidos. Isso porque, na primeira fase, lida a acusação e apresentadas as defesas de cada réu, os ministros julgarão apenas o mérito de cada acusação, declarando o réu inocente ou culpado. Depois, virá a fase da "dosimetria" das penas. Segundo o procurador-geral, Roberto Gurgel, nesta segunda rodada cada ministro apresentará novo voto, acompanhando ou não a proposta de apenamento do relator Joaquim Barbosa.

Agora, estão todos se preparando na coxia do teatro. O primeiro a falar será o ministro-relator Joaquim Barbosa, que condensará seu voto em 15 minutos, mesmo dispondo de duas horas. Está redigindo um "resumo". A seguir, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, fará de seu tempo de 5 horas para ler a peça de acusação que ainda está escrevendo. Falam a seguir, por uma hora cada um, os advogados de defesa. Estes três atos ocuparão toda a primeira metade de agosto.

Antes tarde

Os governadores estão pedindo há mais de 15 dias mas só agora, antes de viajar, a presidente Dilma autorizou a transferência de atribuições, aos estados, de serviços que estão sendo prejudicados pelas greves de servidores. É o caso dos serviços aduaneiros e da liberação de cargas em portos e aeroportos, por agentes da Receita Federal.

A indústria, anêmica e retraída, vem sofrendo com a falta de matéria-prima em algumas praças. Em Manaus, por exemplo, as empresas já colocaram mais de 8 mil empregados em férias coletivas. O resultado é economia fria, arrecadação em queda e empregos em risco.

Há outros serviços que Dilma pode transferir aos estados até que haja algum acordo com os grevistas.

FONTE: CORREIO BRAZILIENSE

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