Lava- Jato chega ao Planalto; crise política se agrava
• Delator diz ter repassado dinheiro ilegal para os ministros Edinho Silva e Mercadante
Simone Iglesias - O Globo
- BRASÍLIA- A Operação Lava- Jato chegou no último sábado ao Palácio do Planalto, a partir da autorização do ministro Teori Zavascki ( STF) para que o ministro Edinho Silva ( Secretaria de Comunicação Social) seja investigado por suspeita de ter conseguido dinheiro para a campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff depois de mencionar ao dono da UTC, Ricardo Pessoa, os contratos da empreiteira com a Petrobras. Pessoa diz ter doado dinheiro de propina. Numa mesma tacada, o braço direito e mais forte ministro da Esplanada, Aloizio Mercadante ( Casa Civil), passou a ser investigado pela Procuradoria Geral da República pelo recebimento de dinheiro ilegal para campanha ao governo de São Paulo, em 2010.
Em meio às crises política e econômica em que o governo está mergulhado desde o começo do ano, as investigações tornam ainda mais turbulenta a rotina palaciana. Apesar das investigações, Edinho e Mercadante permanecerão ministros. Fontes do governo disseram ao GLOBO que não há motivo para afastá- los, e que a delação de Ricardo Pessoa, que diz ter doado ilegalmente aos dois, em anos e campanhas diferentes, não prova nada. A decisão do STF, porém, causou preocupação em integrantes do governo, no sentido de municiar mais a oposição contra Dilma, fragilizada pela falta de popularidade. No entanto, não há, segundo auxiliares de Dilma, motivo concreto para que a crise se agrave.
— Não vejo agravamento. A presidente não convocou nenhuma reunião de emergência — afirmou uma fonte ao GLOBO, que contou ainda que a presidente estava mais preocupada ontem com a mãe, Dilma Jane, que sofreu um acidente doméstico e precisou de cuidados médicos.
Ministros negam doação ilegal
Hoje, após acompanhar o desfile do 7 de Setembro, em Brasília, Dilma receberá um grupo de ministros petistas, entre os quais Edinho, Mercadante, Jaques Wagner ( Defesa) e o assessor Giles Azevedo, para uma reunião de conjuntura. O almoço estava agendado para os petistas conversarem sobre o déficit orçamentário e formas de reduzir o rombo nas contas públicas. A pauta será ampliada para a Lava- Jato.
Ontem, os dois ministros negaram ter recebido recurso ilegalmente. Edinho afirmou ser “plenamente favorável” à apuração dos fatos, porque não teve conversa que não fosse legal, moral e ética com os empresários que doaram:
— Sou plenamente favorável que se apure todos os fatos e que todas as dúvidas sejam esclarecidas. Tenho a tranquilidade de quem agiu como coordenador financeiro da campanha presidencial de 2014 dentro da legalidade, as contas da campanha foram aprovadas por unanimidade pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Mercadante afirmou que a delação de Pessoa é “insustentável”. O ministro disse desconhecer o teor das declarações do empreiteiro porque pediu há três meses ao STF para ter acesso ao processo, mas teve o pedido negado.
Mercadante disse que não tem conhecimento oficial da investigação autorizada pelo STF: “Em toda a minha vida me reuni uma única vez com o senhor Ricardo Pessoa, por sua solicitação. Na oportunidade, não era ministro de Estado, mas senador e pré- candidato ao governo do Estado de São Paulo, em 2010. Segundo as notícias divulgadas pela imprensa, o senhor Ricardo Pessoa, em sua delação, teria afirmado que doou R$ 500 mil, sendo R$ 250 mil de forma legal e outros R$ 250 mil mediante recursos não contabilizados. Ora, essa tese é absolutamente insustentável, uma vez que são exatamente R$ 500 mil os valores declarados, em 2010, e devidamente comprovados em prestação de contas à Justiça Eleitoral, inclusive já aprovada sem qualquer ressalva", afirmou Mercadante por meio da assessoria. Ele anexou à nota o número dos recibos de doação feitas pela UTC e Constran e disse estar à disposição do Ministério Público Federal e do STF.
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