Por Andrea Jubé e Daniel Rittner | Valor Econômico
BRASÍLIA - O Palácio do Planalto aguarda o desfecho da eleição para a presidência da Câmara dos Deputados, nesta quinta-feira, para arbitrar a queda de braço entre os partidos aliados por mais cargos no governo. No centro nervoso dessa disputa, estão o PMDB e siglas ligadas ao antigo Centrão, como PR e PP. O governo quer aferir se a virtual reeleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) confirmará uma profecia de Michel Temer ainda na interinidade: a desidratação do Centrão, para garantir uma base única, sem fissuras internas.
"A eleição da Câmara vai mostrar que PP e PR não têm tamanho para reivindicar tudo o que querem", aponta um auxiliar de Temer. A avaliação corrente no Planalto é de que ambos são aliados fiéis, mas estão pleiteando um espaço no governo maior do que o real tamanho das bancadas, porque tinham maior poder de fogo quando faziam parte do Centrão.
Um embate que Temer terá de arbitrar será a efetiva criação da Secretaria de Portos, vinculada ao Ministério dos Transportes, como prometido ao PMDB do Senado ainda no governo interino. Essa promessa nunca se concretizou, porque o PR - que tem o ex-líder na Câmara Maurício Quintella Lessa (AL) no comando do ministério - também cobiça para si o controle do setor de portos.
A disputa, que se arrastava de forma latente desde maio, no começo da interinidade, atingiu o ápice na primeira semana de janeiro, quando Quintella demitiu o ex-senador Luiz Otávio Campos da assessoria especial do ministério. Luiz Otávio, ligado ao senador Jáder Barbalho (PMDB-PA), era o nome indicado pela bancada do Senado para assumir a Secretaria de Portos, que nunca saiu do papel.
Um pemedebista relata que a espera pela criação do órgão - que antes tinha status de ministério - até virou piada: é o "decreto de quinta-feira", que toda semana seria publicado, mas nunca se concretizou.
Os pemedebistas reclamam que o PR, com 39 deputados, não teria tamanho para controlar portos também. O partido cresceu após o impeachment: além de manter a pasta dos Transportes, indicou o novo presidente da Infraero, Antonio Claret, e detém a diretoria do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). "Somos uma bancada unida, garantimos 90% dos votos ou mais para o governo", ressalta o líder do PR, deputado Aelton Freitas (MG).
O PMDB acusa Quintella de demitir Luiz Otávio sem o aval do Planalto, embora um aliado do ministro afirma que ele não faria esse gesto sem autorização da Presidência. Provisoriamente, a bancada indicou Rodrigo Mendes para a vaga, mas cobra a recondução de Luiz Otávio, mediante a efetiva criação da secretaria e com autonomia plena.
Em outra frente, o PP detém o comando das pastas da Agricultura e da Saúde, duas "máquinas administrativas", define um assessor de Temer. Além disso, emplacou recentemente um afilhado político em uma das diretorias de Itaipu.
Mas, como reflexo da disputa interna na sigla, reivindica a troca do ministro da Saúde, Ricardo Barros, pelo atual líder da bancada, Aguinaldo Ribeiro (PB). O Planalto prefere manter Barros, até porque Aguinaldo responde a um inquérito no Supremo Tribunal Federal no âmbito da Lava-Jato. Ribeiro, que foi ministro das Cidades na gestão Dilma, não quer voltar para planície. Como alternativa, é cotado para assumir a liderança do governo, no lugar de André Moura (PSC-SE).
Há seis meses, Michel Temer afirmou que desejava uma base única, sem a divisão do Centrão - na época, o grupo de partidos que orbitava em torno do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), formado por PR, PP, PSC, PTB, PSD e PRB. "Quero desidratar essa coisa de centrão e de outro grupo, quero que seja tudo situação", declarou, ao jornal "O Estado de S. Paulo'.
Em julho do ano passado, a eleição de Rodrigo Maia para o comando da Câmara deflagrou a desidratação do grupo. No segundo turno, os deputados do PR votaram em Maia, ao invés de apoiarem o candidato do Centrão, o então líder do PSD, Rogério Rosso (DF). Desta vez, o PR apoia Maia desde a largada, e emplacou na Primeira Secretaria o nome da bancada, o deputado Giacobo, do Paraná.
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