Folha de S. Paulo
Bloco vive seu auge sob Bolsonaro, mas
situação não é estável
O centrão vive
uma era mais dourada do que suborno no MEC
de Bolsonaro. Saqueiam dinheiro público com o orçamento paralelo, vivem
impunemente desde que Jair desmontou as instituições de controle, vendem caro
apoio aos candidatos presidenciais. O tanto de azar que o Brasil teve nos
últimos anos, eles tiveram de sorte.
Eles parecem achar que isso vai durar para
sempre, que a mudança no equilíbrio político é permanente. Já planejam
racionalizar a coisa toda inventando um novo sistema, o semipresidencialismo,
em que o presidente
eleito perderá as funções de chefe de governo. Ficará, apenas, com as
funções de chefe de Estado e de otário que vai preso quando a polícia pegar o
esquema.
Também estão vendendo caro os apoios aos candidatos
presidenciais. Olham para Lula, Bolsonaro e,
com a ajuda de binóculos, para a terceira via, com uma cara de "Dessa vez
não vai ser só 10%. Dessa vez eu quero tudo".
Mesmo assim, se eu fosse eles, baixaria
minha bola.
O centrão se consagrou, em primeiro lugar, porque Bolsonaro nunca teve qualquer interesse em governar como presidente normal. Deixou a articulação no Congresso às moscas e rachou o próprio partido. Você vê que o sujeito não se importa com um problema quando o deixa a cargo do Onyx. Enquanto isso, Bolsonaro tentava articular nos quartéis, imagino que com algum general melhor que o Onyx. Nesse vazio, o centrão governou.
Em segundo lugar, o centrão se fortaleceu
porque a oposição não podia denunciar suas manobras com muita veemência sem o
risco de fortalecer o golpismo de Bolsonaro. Se fizesse uma passeata com a
faixa "Lira ladrão", Jair diria: "Opa, beleza, então vamos
fechar o Congresso e aproveitar o embalo para fuzilar vocês aí da
passeata".
O centrão chegou ao seu apogeu na antessala
do golpe. Não dá para viver eternamente na antessala do golpe. Em algum
momento, ou tem golpe ou ninguém acredita mais na ameaça.
Em nenhum desses dois cenários o atual
semipresidencialismo da mutreta é sustentável.
Se houver golpe, a partir do dia seguinte o
orçamento será partilhado por Queiroz entre
a turma do Jair. Ser deputado de Congresso fechado não vale nada.
Se o risco de golpe passar, a fiscalização
democrática sobre o Congresso volta. Presidentes eleitos democraticamente
receberão apoio da sociedade para desafiar o semipresidencialismo da mutreta.
Voltará a ser seguro criticar o Congresso. Vocês querem estar com o orçamento
secreto na mão quando a transparência voltar?
Por isso, se eu fosse o centrão, faria as
duas seguintes coisas.
Em primeiro lugar, tentaria organizar uma
retirada organizada até uma posição estrategicamente defensável. Organizem-se em partidos
grandes e devolvam funcionalidade ao sistema. Voltem a reformar o
sistema para que a corrupção diminua, como vocês fizeram em 2017. Aceitem
a Quarta-Feira
de Cinzas.
Em segundo lugar, não tratem Bolsonaro como
um presidente qualquer em busca de reeleição.
Esse dinheiro que ele vai lhes pagar em troca de apoio vai ser o último que
vocês vão receber. Se Jair for reeleito, vai ter golpe. Apoiem Lula ou
articulem outra candidatura.
Centrão, meu filho, em uma democracia não
dá para fazer o que você anda fazendo. E, sem democracia, ninguém precisa de
você.
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