O Globo
A reunião dos presidentes de partidos do
agora chamado Centro Democrático, antiga terceira via, em vez de encaminhar uma
solução consensual sobre uma desejada chapa única de União Brasil, PSDB,
Cidadania e MDB, deverá registrar mais dissensos que entendimentos. A semana
começa com os partidos empenhados em achar uma solução, todos afirmam que não
há divisão e que os entendimentos estão acontecendo.
Aparentemente, no entanto, não dá para ser muito otimista com essa união. O
ex-governador paulista João Doria, que está num partido muito dividido, com um
candidato extraoficial, Eduardo Leite, correndo por fora, lançou o primeiro
vídeo de campanha ressaltando todas as suas vantagens como gestor. Mostrou que
não está aguardando o desfecho da situação de Leite; age como se nada houvesse.
Ao mesmo tempo, o governador Rodrigo Garcia, seu sucessor, lançou outro vídeo
se apresentando ao eleitorado e não menciona o nome de Doria uma vez sequer. No
União Brasil, ACM Neto desistiu de impugnar a candidatura de Moro, sinal de que
fez um movimento mais rápido e incisivo do que devia e teve de recuar. Mostra
que não existem condições para vetar o candidato de Bivar, que quer ver Moro
nas pesquisas. Se ele mantiver a dianteira e continuar a ser o mais votado
dentre os candidatos do Centro Democrático, ficará mais difícil o grupo do DEM
dentro do partido vetar a candidatura.
Por isso a solução caseira parece ser a melhor para os que, no União Brasil,
não querem Moro candidato à Presidência. Alegam que ele não tem nenhuma identidade
com o partido e, ao contrário, atrapalha os palanques regionais. O líder do
partido, deputado federal Elmar Nascimento, oriundo do DEM da Bahia, diz que,
nos estados do Nordeste, “Moro não serve para a gente; não tem estado nenhum
que o queira, dos 51 deputados, só três o apoiam”. Ele admite que, no União
Brasil, tem gente que prefere Lula, outros que preferem Bolsonaro. “Sendo
assim, é melhor a gente ter uma candidatura raiz, do que uma que não vai deixar
legado nenhum. Se o Moro fosse um fenômeno eleitoral, fosse o favorito, tá bem,
vamos lá. Mas não é isso. A turma está querendo a sobrevivência política.”
Desse jeito, raciocina, o melhor é ter uma candidatura como a de Luciano Bivar,
presidente do partido, já que não há, na visão dele, um nome que se imponha com
naturalidade. “Por que, com a capilaridade que temos, com o dinheiro que temos,
vamos gastar dinheiro com um candidato de um outro partido?” Doria não seria
esse candidato, pois “primeiro tinha de unificar o partido dele”, diz,
referindo-se à disputa interna com Leite. “Depois, tinha de sair bem de São
Paulo. O sujeito que não sai bem recomendado de sua casa, como pode bater na
porta dos outros?”
Os partidos do Centro Democrático têm dois meses pela frente para ver o que vai
acontecer. A solução será dada em abril, maio e início de junho, com a
pré-campanha de todos para ver quem se viabilizará. O PSDB pode ter uma
experiência terminal, depois de ter sido pioneiro na disputa de prévias
partidárias para indicar seu candidato, ou no mínimo abrir uma porta para o
futuro na renovação geracional que virá em 2026, quando a geração da Nova
República estará aposentada.
Viabilização quer dizer pontos nas pesquisas, apoio de outros partidos e da
sociedade civil organizada. O PSDB não coloca mais Moro entre os
“presidenciáveis”, mas há quem no União Brasil diga que o candidato do PDT,
Ciro Gomes, deveria ser incluído, pois é o único do grupo que tem cerca de 10%
das preferências e poderia ser competitivo. Lembrando que as prévias são
legítimas, mas a realidade não é estática, a maioria dos tucanos considera que
a escolha do candidato transferiu-se das prévias para os demais partidos do
Centro Democrático.
O resultado das prévias indicando Doria como candidato do partido teria perdido
a validade diante do novo quadro partidário. Dos dez deputados que saíram da
legenda na janela partidária, sete votaram em Doria, um já era pró-Bolsonaro e
dois votaram em Leite. Só isso já mudaria o resultado, alegam, para justificar
a nova realidade.
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