sexta-feira, 20 de maio de 2022

PSDB vive encruzilhada para rifar Doria

PSDB busca saída para Doria e tenta blindar disputa em São Paulo da rejeição do ex-governador

Enquanto tenta buscar saída consensual e sem judicialização com ex-governador para sacramentar apoio a Tebet, tucanos montam estratégia para afastá-lo da pré-candidatura de Garcia e blindar alianças em São Paulo, Rio Grande do Sul e Pará

Bianca Gomes / O Globo

SÃO PAULO — Para livrar-se da pré-candidatura de João Doria à Presidência, o PSDB está diante de uma encruzilhada. Enquanto tenta, ainda sem sucesso, encontrar uma saída minimamente consensual com o ex-governador e evitar judicialização, tucanos tentam afastá-lo do principal objetivo da legenda: manter a hegemonia no comando de São Paulo, estado que a sigla governa ininterruptamente desde 1995.

Mais do que pesquisas internas qualitativas e quantitativas, a escolha pelo nome da senadora Simone Tebet (MDB) como pré-candidata da terceira via foi uma decisão eminentemente política e que teve como pano de fundo a prioridade do PSDB para São Paulo. Soma-se a isso a possibilidade de, com Tebet, os dois partidos acertarem palanques conjuntos em pelo menos três estados.

Na avaliação da cúpula do PSDB, a pré-candidatura de Doria tornaria inviável a vitória de seu sucessor, o atual governador Rodrigo Garcia. Isso porque Doria deixou o governo paulista com apenas 23% de aprovação e 36% de rejeição, segundo o Datafolha.

Arriscar uma eventual derrota no governo de São Paulo significaria, para o PSDB, perder projeção nacional e enfraquecer o partido, que venceu sete eleições seguidas no estado. Diante desse cenário, a candidatura de Tebet foi vista pelo PSDB oportunidade perfeita para rifar o ex-governador paulista. E as pesquisas quantitativa e qualitativa eram o embasamento técnico que faltava para justificar uma decisão política.

“Golpe” como argumento

Apesar da sinalização pró-Tebet de ontem, Bruno Araújo, Baleia Rossi e Roberto Freire — presidentes do PSDB, MDB e Cidadania, respectivamente — já haviam acertado o nome da senadora em uma reunião ocorrida há cerca de um mês, logo depois de Luciano Bivar (União Brasil) abandonar o barco da terceira via. Nesse intervalo, Doria ampliou seu isolamento, e Araújo ganhou o aval de toda a Executiva para tirar o ex-governador da disputa.

A ideia de apoiar Tebet ainda ganhou força com a possibilidade de MDB e PSDB conseguirem acertar palanques conjuntos em três estados. Em São Paulo, os emedebistas indicaram Edson Aparecido para a vice de Garcia. No Rio Grande do Sul, há negociações para o deputado Gabriel Souza (MDB) ser vice de Eduardo Leite (PSDB) e, no Pará, os tucanos querem escolher o vice do pré-candidato emedebista à reeleição, Helder Barbalho (MDB).

Ainda que apoiada em pesquisas, a escolha de Tebet não foi bem recebida por Doria, que, antes mesmo da escolha do nome da senadora ser confirmada, já havia ameaçado recorrer à Justiça caso não fosse o candidato. Doria está concentrado em elaborar sua defesa e amplificar o discurso de que é vítima de um “golpe” após vencer as prévias.

Em meio a essa encruzilhada, o partido agora estuda qual destino dar ao ex-governador paulista. Na próxima segunda-feira, Araújo e os líderes do partido devem se reunir com Doria em seu escritório na capital paulista para comunicá-lo oficialmente sobre a decisão de apoiar Tebet e oferecer-lhe um “prêmio de consolação”. Uma das possibilidades é a vice na chapa da senadora ou mesmo uma vaga ao Senado pela sigla. Esta última, porém, continuaria sendo prejudicial a Garcia pela proximidade na chapa.

Pessoas ligadas a Araújo acreditam ser difícil chegar a um acordo com o ex-governador e, por isso, já há um entendimento de que o partido terá de correr o risco da judicialização caso Doria insista. Aliados do presidente tucano acreditam que podem obter decisão favorável na Justiça Eleitoral porque Doria já declarou publicamente ser favorável a um acordo com os demais partidos do chamado “centro democrático”.

Carta conjunta

Essa questão foi inclusive lembrada em uma carta divulgada pelas três siglas ontem à noite:“Nos últimos meses, os pré-candidatos externaram publicamente, em diversos momentos, a compreensão de que estávamos tratando de algo maior do que uma escolha partidária”, diz a nota, que ainda cita declaração de Doria em evento empresarial, no dia 23 de março, na qual ele disse: “‘Em nenhuma dessas reuniões houve qualquer colocação, de qualquer partido e de qualquer candidato no sentido de que a prerrogativa fosse seu nome ou seu partido. O mais importante é a defesa do Brasil e dos brasileiros”.

Caso Doria não aceite ser vice de Simone, o nome de consenso entre as três siglas é Tasso Jereissati (PSDB).

Colaborou Gustavo Schmitt

Nenhum comentário: