Folha de S. Paulo
Bolsonaro se agarra a turma que faz
barulho, mas não tem poder para respaldar ruptura
Os apuros de Jair Bolsonaro provocaram
ajustes na órbita política de Brasília. Líderes importantes do centrão
continuam bem perto dos cofres do governo, mas adotaram uma visão realista
sobre o futuro do presidente. Em conversas reservadas, eles reconhecem o
caminho difícil até a reeleição e decidiram aumentar
a distância em relação às obsessões golpistas do presidente.
Os sócios da aliança governista enxergaram péssimos sinais nas pesquisas que mostraram uma estagnação do presidente atrás de Lula. Esses políticos perceberam que o Planalto tem pouca força para reagir a fatores negativos, como os preços em disparada, e temem que os ataques ao processo eleitoral se tornem a única arma de Bolsonaro.
O próprio presidente deu pistas do que vem
ocorrendo. Na terça (7), Bolsonaro contou que auxiliares tentaram demovê-lo de
fazer novos ataques ao Supremo. "Podia ter ficado quieto, como quase todos
os meus ministros me aconselham: 'fique quieto, fique na tua, calma'",
disse.
Os ministros que cumprem esse papel são,
quase sempre, políticos do centrão, mas a recomendação da turma não funcionou.
Bolsonaro se referiu a integrantes do STF como canalhas, disse que eles querem
uma ruptura e
insinuou que a corte trabalha pela reeleição de Lula.
Nos trechos mais inflamados do discurso, o
presidente não fez menção a nenhum aliado poderoso do bloco que garantiu sua
permanência no cargo até aqui. Só dois deputados foram citados: Otoni de Paula
e Carla Zambelli. Os dois são conhecidos propagadores de informações falsas e
ataques ao STF.
A tropa política reunida em torno dos
preparativos conspiratórios de Bolsonaro está cada vez mais restrita a uma nova
linhagem do baixo clero –que faz barulho, mas não tem poder suficiente para
respaldar nenhuma aventura autoritária. Nesta quarta (8), o
presidente voltou a atacar os tribunais durante um evento com empresários.
Na plateia, estavam os insuspeitos Onyx Lorenzoni, Eduardo Pazuello e Daniel
Silveira.
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