Folha de S. Paulo
Petista transforma em fato político relação
republicana desprezada por Bolsonaro
Todo político precisa de um certo cinismo.
Alguns exageram de vez em quando. Após um evento com Lula, Tarcísio de
Freitas disse que um ato envolvendo dois opositores não
era "nada de
mais". Cláudio
Castro seguiu um caminho parecido depois que o petista anunciou
investimentos no Rio: "Não vou aplaudir esse cara?".
Os dois governadores são sócios de um clube que nunca tratou essas relações de maneira trivial. Jair Bolsonaro foi um presidente que ameaçou cancelar a compra de uma vacina porque ela havia sido desenvolvida no governo de João Doria. Foi também aquele que xingou Flávio Dino e disse que o Planalto não deveria "ter nada com esse cara".
A máquina do governo era uma arma suja que
Bolsonaro não tentava camuflar. Ainda no primeiro ano de mandato, ele disse que
só atenderia às demandas de governadores críticos se eles falassem "que
estão trabalhando com o presidente Jair Bolsonaro". Numa overdose de
desfaçatez, emendou: "Caso contrário, eu não vou ter conversas com
eles".
Lula abriu seu talão de cheques. Nas últimas
semanas, o presidente subiu em palanques ao lado dos governadores bolsonaristas
de São Paulo,
Rio e Paraná. Nesta quarta (8), desembarcou em Minas Gerais. Transformou o giro
num fato político e sorriu ao
lado de opositores que, até então, faturavam quando davam
pancadas no presidente.
Ninguém espera que o quarteto abandone as
raízes ou faça campanha para Lula. Mas a jogada afrouxa uma corda que o
bolsonarismo gostaria de manter sobre esses governadores. Na oposição, o plano
do ex-presidente era usar o peso político desses estados para fazer um
contraponto ao governo federal a partir de
um antipetismo absoluto.
Ainda que nenhum dos projetos anunciados por
Lula seja arrasador, o presidente amplia a exposição da marca do governo e
evita que estados estratégicos sejam canteiros de obras apenas da direita. De
quebra, a cordialidade com a oposição ainda permite que o petista repise o
contraste com o antecessor.
Um comentário:
Exatamente,e ainda tem gente que o igualam!
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