Por Carlos Marcelo, Ígor Passarini, Rafael Bernardes / Correio Braziliense
Ante a crise deflagrada entre o Palácio do Planalto e o Parlamento, o chefe do Executivo ressalta que Câmara e Senado aprovaram, em 2023, propostas importantes, como a da reforma tributária, e enfatiza que "divergências são normais"
Belo Horizonte — Em meio à crise entre o
Palácio do Planalto e o Congresso, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
procurou minimizar a tensão, exposta publicamente pelo presidente da Câmara,
Arthur Lira (PP-AL), no discurso de abertura do Legislativo, na segunda-feira.
Segundo o chefe do Executivo, a relação do governo com o Parlamento “tem sido
de diálogo e respeito”. “O Congresso aprovou, em 2023, medidas importantes, em
especial a reforma tributária, que era um assunto discutido faz décadas”,
argumentou, em entrevista exclusiva aos Diários Associados, na chegada, nesta
quarta-feira, a Minas Gerais. “Divergências são normais. O importante é
conseguirmos superá-las para trabalhar juntos no que interessa ao Brasil.”
O presidente também comentou a relação com o governador de Minas, Romeu Zema
(Novo), que apoiou a tentativa de reeleição do então presidente Jair Bolsonaro
e tem feito muitas críticas à gestão petista. “O governador não precisa gostar
de mim. Não precisamos ser amigos, precisamos ser parceiros, por Minas e pelo
povo mineiro”, frisou. Nesta quinta-feira, o chefe do Planalto divulgará os
investimentos federais para o estado.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
O dia 8 de janeiro entrou para a história do país. Ao pensar nos livros de
História do futuro, como imagina que essa data, bem como a sequência dos fatos,
serão narrados?
Acho que ficará para a história como o ponto
máximo de uma onda de insanidade e ódio que varreu este país durante quatro
anos. O 8 de janeiro será lembrado como a tentativa frustrada de destruir nossa
democracia e perpetuar no poder um aprendiz de ditador. Mas será também
lembrado como o momento em que as instituições e os setores progressistas se
uniram em defesa da democracia. Estará nos livros de História que no final da
tentativa de golpe as instituições e a própria democracia saíram ainda mais
fortes.
Qual nota daria para a relação com o Congresso Nacional, no primeiro ano de mandato? O que destacaria das relações com os presidentes Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Arthur Lira (PP-AL)?
Nós somos Poderes independentes, que têm que ter relação harmônica, não cabe um
dar nota para o outro. A relação com o Congresso tem sido de diálogo e
respeito. O Congresso aprovou, em 2023, medidas importantes, em especial a
reforma tributária, que era um assunto discutido faz décadas. Na realidade, já
em 2022, antes mesmo da posse, o Congresso aprovou a PEC (proposta de emenda à
Constituição) da Transição, que foi fundamental para fecharmos o Orçamento de
2023, com todos os investimentos necessários para trazer de volta programas
sociais que haviam sido extintos ou desfigurados pelo governo anterior. Eu
destacaria uma reunião que tivemos com investidores americanos em Nova York,
eu, Lira e Pacheco na mesma mesa. Os americanos disseram que isso seria impossível
nos Estados Unidos, devido à polarização do país. Nós conseguimos mostrar que
existe respeito mútuo. Divergências são normais. O importante é conseguirmos
superá-las para trabalhar juntos no que interessa ao Brasil.
Todas as vezes que o senhor ganhou a Presidência, venceu em Minas Gerais. A que considera esse vínculo?
Minas é uma espécie de síntese do Brasil. Está no centro do país e faz
fronteira com São Paulo, o Centro-Oeste, a Bahia e o Espírito Santo. Venho
sempre a Minas, desde os anos 1970. Eu visitei muito todas as regiões ao longo
dos anos, a Zona da Mata, o Vale do Aço, o Triângulo, o Norte de Minas, o Vale
do Mucuri, a Região Metropolitana de Belo Horizonte, todas as regiões do
estado, sempre dialogando com a população. Acho que o meu resultado em Minas
tem a ver com esse forte vínculo político que construí ao longo dos anos com a
população de Minas.
Como avalia a disputa pela prefeitura de Belo Horizonte neste ano? Qual a possibilidade de uma frente única, com Fuad Noman e Rogério Correia juntos?
O cenário eleitoral em Belo Horizonte ainda está se desenhando. Eu espero que a
gente consiga juntar as forças democráticas, de preferência no primeiro turno,
contra a extrema direita negacionista, essa gente que aparece nas redes
digitais com um discurso maluco, e que na hora de governar não sabe o que
fazer.
Por que Minas Gerais está entre os últimos estados a serem visitados pelo senhor como presidente?
No primeiro ano, foi importante recuperar a imagem do Brasil no exterior, que
foi muito desgastada pelo governo anterior. O Brasil tinha se transformado num
pária mundial. E aqui no Brasil estávamos reorganizando o governo. Foi preciso
muito trabalho para reorganizar o governo depois da bagunça deixada pelo
governo anterior, preparar projetos, retomar obras paradas. Então, não consegui
visitar todos os estados que eu queria no primeiro ano.
Como entende que é possível melhorar a relação com o governador Romeu Zema? O senhor confirma o convite feito ao governador para o evento nesta quinta-feira?
Fui eleito para governar para todos os brasileiros. Fomos todos eleitos pelo
povo, com o compromisso de melhorar a vida das pessoas. O governador não
precisa gostar de mim. Não precisamos ser amigos, precisamos ser parceiros, por
Minas e pelo povo mineiro. O governador Zema foi convidado para o evento, da
mesma forma que foi várias vezes convidado para ir a Brasília defender os
interesses do estado.
Em Minas está a segunda maior incidência de dengue no país, com 12 mil casos confirmados, e estado de emergência declarado. Será feita alguma ação específica neste momento? E como evitar futuras epidemias?
A dengue é um problema de saúde que é responsabilidade de todos. Desde cada morador evitar criar focos em casa, os prefeitos, governadores e governo federal. O mosquito não viaja de uma cidade para outra. Se cada pessoa cuidar de casa e da rua, se os governos locais, a tendência é conseguirmos reduzir os focos do mosquito. O governo federal está ajudando. Somos o primeiro país do mundo a oferecer a vacina no seu sistema de saúde, mas ainda não há a produção das doses disponíveis para o país todo. A partir deste mês, vamos atender regiões e públicos prioritários, na faixa de 10 a 14 anos, conforme cronograma definido pelos gestores técnicos do SUS (Sistema Único de Saúde), com base na incidência de casos de dengue em cada local. Esperamos que muito em breve a vacina seja produzida também no Brasil, além da vacina do Butantan, que está em fase de testes, para ampliarmos a oferta.
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