O Estado de S. Paulo
Lula quer enfrentar situações inéditas com velhas ideias
Lula não quer saber de experimentar. Suas
decisões são baseadas sempre nas velhas convicções – ou cacoetes, como se
preferir –, o que vale tanto para uma Petrobras como para o enfrentamento da
catástrofe que destruiu boa parte do Rio Grande do Sul.
A resposta ao que é uma inédita crise
múltipla dentro de uma grande crise exigiria um notável esforço político para
criar algum tipo de instância central de coordenação e controle. A maior
dificuldade está no pacto federativo e a autoridade por ele conferida ao
governador do Estado, que não manda em todas as instâncias (federais, por
exemplo) das quais precisa.
O que Lula “criou” para lidar com o desastre no Sul foi um ministro extraordinário sem poderes plenipotenciários, que é declarado rival das forças políticas no comando do Estado e candidato a substituí-las nas próximas eleições para governador. Mas é uma oportunidade relevante para que Lula assuma seu lugar favorito, o de salvador da Pátria.
“Precisamos funcionar como uma orquestra”,
disse Lula em relação aos Poderes e sua atuação na crise. Como se sabe, não há
orquestra que funcione sem um maestro. No caso da resposta à tragédia, quem vai
empunhar a batuta? E, também tão importante, de quem é a partitura?
No caso da Petrobras, compõe o pano de fundo
para a troca do presidente da estatal o velho ranço sindicalista tão essencial
na formação de Lula.
Sua principal característica é a aliança
nacional desenvolvimentista com empresários interessados em pouca competição e
muitos incentivos estatais que perdura há décadas. Além dos grupos políticos
que transformam pedaços da máquina pública em ferramentas na defesa de seus
interesses.
Passa longe do radar de Lula a ideia de que a
natureza de desafios enfrentados pela Petrobras e pelo Rio Grande do Sul está
ligada também a amplos fatores externos, entre os quais a transição energética
(leia-se também fenômenos climáticos extremos) ocupa o centro das estratégias
das grandes economias. Não é tentando fabricar navios que o País ficará mais
forte.
Os resultados do que se tentou com o
nacional-desenvolvimentismo indicam um grande fracasso. Assim como uma série de
especialistas não se cansa de dizer que boa parte do sofrimento trazido pela
tragédia climática tem a ver com a proverbial falta de capacidade de
planejamento e políticas públicas, nos vários níveis.
Lula declarou que vai trilhar mais uma vez o
único caminho que conhece. Contará com as forças de sempre, em notável
descompasso com as transformações domésticas e internacionais. Mas a voz
interior, a única que Lula ouve, garante que agora vai dar certo.
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