sábado, 7 de junho de 2025

Os brasileiros estão cansados de Lula e Bolsonaro – Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

Parece que a população manifesta cansaço com a falta de austeridade e contenção no uso do dinheiro público

Quase metade dos brasileiros, ou exatamente 48%, considera que a economia piorou — tal é um dos resultados da pesquisa Quaest divulgada na última quarta-feira. Na rodada anterior, em março, o descontentamento era maior: 56% dos entrevistados. Houve, portanto, ligeira melhora na percepção, mas ainda assim o dado chama a atenção.

Depois de dois anos de crescimento acima de 3%, com desemprego baixo, quase metade dos brasileiros acha que a economia está pior. Mas o presidente Lula acredita que vai muito bem. Ele não perde oportunidade para alardear o “pibão” e zombar dos analistas que antecipam desaceleração. Nos bastidores, Lula cobra de sua equipe mais esforço para “mostrar” à população que o Brasil vai melhor do que ela pensa. De novo, o problema seria de comunicação. Mas não é. Outros dados da mesma pesquisa mostram que a população percebe problemas que o governo não quer ou não pode ver.

É verdade que diminuiu o número de entrevistados se queixando da alta de preços, refletindo a folga da inflação neste início de ano. Mas a maioria declara que o poder de compra é menor que há um ano. Trata-se de uma percepção exata. A inflação de alimentos até caiu um pouco, mas os preços não. Inflação menor significa que os preços sobem em ritmo menor, mas, como dizem os entrevistados da Quaest, continuam altos, corroendo o poder de compra.

Esse é um dos motivos por que a maioria considera o Brasil conduzido na direção errada — e a conta, claro, vai para o governo Lula. Aqui, não se trata só de economia, mas de vida em geral. A percepção envolve a violência urbana, a maior preocupação da população apontada na pesquisa de maio. Não adianta o governo federal dizer que a segurança é, legalmente, de responsabilidade dos governos estaduais. A questão é outra: se os governos estaduais obviamente não dão conta do problema, por que Brasília, com mais recursos, não assume o comando?

Dirão: mas não é exatamente o que o governo Lula faz com a proposta de nova lei de segurança? Pois é, mas a proposta anunciada, com forte comunicação, não avança. Todo dia, as pessoas percebem no noticiário que a bandidagem leva vantagem e que os planos governamentais continuam apenas isso, planos.

Há outras situações, aparentemente menos graves, mas que, acumuladas, causam desconforto. Entram aí as crises do Pix, a roubalheira no INSS (que reaproxima o governo da corrupção) e as trapalhadas com o aumento do IOF. Tudo culpa do governo atual, diz a população. Acrescentem as filas para atendimento no SUS e para obtenção de benefícios no INSS, e a sensação de mal-estar se amplia.

De novo, o governo se atrapalha. Assim como diante da escalada da violência, anuncia um plano. Também no caso do SUS a resposta é o anúncio de um programa, o Mais Acesso a Especialistas. No caso do INSS, Lula disse que os aposentados roubados serão ressarcidos rapidamente. Disse. É o governo dos grandes anúncios, quando a população espera, com razão, que Lula cumpra as promessas de campanha, entre as quais a eliminação daquelas filas. Mais ação, menos palavrório.

Outras situações, aparentemente de menor impacto, também causam a sensação de que o país vai na direção errada. Incluem-se aí: os supersalários do funcionalismo e de membros do governo, agraciados com valiosos cargos em estatais e outras empresas; os prejuízos de estatais; o péssimo serviço dos Correios; e, sim, as luxuosas viagens internacionais de Lula e Janja, hospedados em hotéis de alto luxo, levando comitivas numerosas, na boca-livre.

Parece que a população manifesta cansaço com essa lambança ou — dito de outro modo — com a falta de austeridade e contenção no uso do dinheiro público. Isso sugere cansaço com o Lula 3. Está aqui talvez o dado mais importante da pesquisa Quaest. Dois em cada três brasileiros acham que Lula não deveria se candidatar a um quarto mandato. E exatamente na mesma proporção, dois em três acham que Bolsonaro não deveria se candidatar a um segundo mandato. O cansaço, pois, é com a situação política, com essa polarização que tanto mal tem feito ao país.

 

 

 

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