DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Tráfico e corrupção são complexos e não podem ser resolvidos por política de segurança milagrosa
Tráfico e corrupção são complexos e não podem ser resolvidos por política de segurança milagrosa
Na semana anterior, o Rio de Janeiro voltou a ser palco de guerra que, afinal, foi "vencida" pelo Exército. Bela vitória, mas é claro que o problema não está resolvido. Nem é aconselhável que o Exército permaneça no Complexo do Alemão.
Por que o Estado não logra afirmar a sua autoridade nas favelas do Rio de Janeiro? As razões são conhecidas.
Porque os lucros com o tráfico de drogas são grandes. Porque os jovens pobres da favela têm poucas alternativas de trabalho. Porque há corrupção na polícia. Porque o inimigo não é apenas a máfia dos traficantes, é também a máfia das milícias militares.
Não digo que haja consenso a respeito, mas políticos, policiais e militantes dos recursos humanos estão bem a par do que estou afirmando. Os três notáveis filmes de José Padilha, "Ônibus 174", "Tropa de Elite" e "Tropa de Elite 2", apresentaram essas três causas de maneira didática. Por que, então, o problema não é resolvido?
Lendo as análises dos últimos acontecimentos, identifico uma resposta quase unânime. É preciso que o governo federal e o governo estadual adotem em conjunto uma política ampla de segurança pública.
Há também um razoável consenso entre os analistas da crise recente de que as UPPs (Unidades Policiais Pacificadoras) que o governo do Rio de Janeiro vem instalando nas favelas é um bom caminho.
Embora esquerda e direita divirjam quanto aos princípios que devem orientar essa política nacional -para a primeira, aumento do emprego e diminuição das desigualdades, para a segunda, aumento da repressão-, estão todos de acordo que ela é necessária. E, todavia, a política salvadora do problema não se materializa. Por quê?
Essencialmente porque essa política salvadora não existe. Porque é evidente que mais emprego e menos desigualdade ajudariam a resolver o problema, da mesma forma que mais repressão é essencial para enfrentá-lo.
Mas o problema do tráfico e da corrupção é complexo demais, e suas causas estão inseridas na própria lógica da sociedade em que vivemos. Não pode, portanto, ser resolvido por uma política de segurança mágica.
Um individualismo radical caracteriza os atores do drama. A cocaína é um vício de ricos que estão dispostos a pagar o que for necessário para sustentá-lo. O tráfico é organizado por máfias bem organizadas e realizado por jovens que aprenderam a não prezar a própria vida.
Os policiais estão de tal forma próximos da corrupção que é impossível evitar que muitos deles se deixem subornar.
O Estado brasileiro, entretanto, está avançando no caminho de impor sua ordem. A grande maioria dos políticos já percebeu que sua reeleição depende da firmeza com a qual imponham a segurança.
Os policiais federais estão hoje sendo bem pagos. É preciso caminhar na mesma direção a polícia do Rio de Janeiro, e equipá-la melhor.
Por outro lado, o grande pacto político popular e nacional que, na primeira metade dos anos 1980, presidiu a transição democrática, previa uma diminuição das desigualdades via aumento do gasto social que vem acontecendo.
Portanto, não obstante a permanência do problema do tráfico de drogas, o Brasil caminha na direção certa.
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