Por Fernando Taquari
SÃO PAULO - A crítica do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao apego de petistas por cargos públicos foi entendida no PT como mais um recado para o partido renovar suas bandeiras e buscar o apoio de eleitores insatisfeitos com os rumos do país. A ideia é evitar que potenciais adversários da presidente Dilma Rousseff possam emergir como representantes dos manifestantes que desde junho tomam as ruas das maiores cidades brasileiras. As declarações, no entanto, acabaram provocando uma cizânia entre as correntes do PT que disputarão a eleição interna em novembro.
Em entrevista ao jornal espanhol El País, o ex-presidente disse que o crescimento do PT como partido expôs defeitos, como "gente que valoriza muito o parlamento, outros os cargos públicos". Para o deputado federal Paulo Teixeira (SP), candidato a presidente da legenda pela corrente Mensagem ao Partido, Lula fez uma constatação dos problemas internos e ressaltou a necessidade de reequilíbrio partidário. O campo majoritário Construindo um Novo Brasil (CNB) ocupa cerca de 60% de espaço no diretório nacional. "Essas preocupações casam com os ideais da nossa chapa, que se propõe a ser um polo de mudanças. O campo majoritário não tem essa agenda entre as suas propostas", afirmou Paulo Teixeira.
"Vejo [as declarações de Lula] como palavras de estímulo que mostram a importância de mudarmos nossa visão e nos voltarmos mais aos movimentos sociais", acrescentou. O atual presidente do PT, deputado estadual Rui Falcão (SP), que concorre à reeleição pela corrente Novo Rumo, com o apoio de Lula e do CNB, disse por meio de sua assessoria que não comentaria as declarações. Defensor da candidatura de Falcão, o deputado federal Carlos Zarattini (SP), da Novo Rumo, rebateu Teixeira ao afirmar que a Mensagem Partido é a corrente com mais ministérios no governo Dilma e por isso não teria condições para criticar a ocupação de cargos públicos. Na verdade, o campo majoritário comanda a maior parte das pastas sob a administração do PT - pelo menos nove das 17 petistas.
O presidente do PT paulista, deputado Edinho Silva (SP), disse que o ex-presidente mostra sensibilidade política aguçada ao expressar a necessidade de o partido renovar propostas e quadros políticos. "Lula foi quem mais entendeu no Brasil o recado das ruas. Um partido envelhece quando suas bandeiras envelhecem. Ele quer que o PT tenha capacidade de ler isso". Segundo Edinho, a reconstrução do partido e de um projeto de governo não implica em "termos cargos no parlamento ou em qualquer instância de governo, mas na reaproximação com os movimentos sociais".
Edinho afirmou que o ex-presidente não quer que correligionários com cargos públicos disputem as eleições internas no PT, pois devem estar concentrados apenas em cuidar dos interesses da legenda em sua fase de renovação. O pedido teria, inclusive, sido feito ao ex-prefeito de Osasco Emídio de Sousa, favorito para suceder Edinho no comando do partido em São Paulo.
Fonte: Valor Econômico
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