terça-feira, 22 de outubro de 2013

Palanque duplo no Planalto

Palanque duplo no Planalto Sanção do Mais Médicos reforça o discurso eleitoral de Dilma Rousseff e Alexandre Padilha. Apesar da festa que o governo fará hoje com a presença de prefetos, CFM diz que não basta contratar profissionais sem investir em infraestrutura

Paulo de Tarso Lyra, Julia Chaib

O Palácio do Planalto vai se transformar hoje, durante a sanção do programa Mais Médicos, em um grande palanque para destacar a principal bandeira eleitoral da presidente Dilma Rousseff e do pré-candidato do PT ao governo de São Paulo, o ministro Alexandre Padilha. O cerimonial do Executivo federal convidou prefeitos de pequenos municípios e, até o início da noite de ontem, escolhia um deles para dizer como o Mais Médicos mudou a realidade de sua cidade. A solenidade servirá também para esconder as dificuldades da União em investir na melhoria da infraestrutura na área de saúde.

Levantamento do Conselho Federal de Medicina (CFM) com base em dados do Siafi (sistema de monitoramento das contas do governo) mostra que, nos últimos 12 anos, o governo federal pecou no investimento direto em infraestrutura, como a construção, a ampliação e as reformas de unidades de saúde, e também falhou na compra de equipamentos, como ambulâncias. Dos R$ 62 bilhões autorizados no período para essa finalidade, apenas R$ 27,5 bilhões (41%) foram efetivamente gastos. O valor não aplicado em infraestrutura— R$ 39,5 bilhões — representa pouco menos da metade de todos os recursos que o ministério deixou de gastar em pouco mais de uma década (R$ 94 bilhões de R$ 852,7 bilhões autorizados).

Os números explicitam a queda de braço entre o governo e as entidades médicas. Enquanto o primeiro afirma que o problema de saúde no país está na falta de médicos, sobretudo no interior, as associações rebatem dizendo que não adianta multiplicar os profissionais sem lugares decentes para trabalhar ou materiais adequados para exercer a medicina. Para o especialista em contas públicas Gil Castelo Branco, esse é o aspecto mais grave do montante não aplicado. "O investimento é um gasto nobre. Isso quer dizer que não foi usado nem metade dos recursos disponíveis para esse fim."

Campanha
Apesar das críticas, o PT comemora a sanção do programa em um prazo até mais rápido do que o esperado pela legenda. Dessa forma, Padilha terá mais tempo para se dedicar a atividade em São Paulo. Setores do partido, incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acreditam que não se pode repetir o erro de 2010, quando o então senador Aloizio Mercadante (PT-SP) demorou a começar a campanha e não teve tempo para consolidar a candidatura ao governo estadual. O presidente do partido em São Paulo, deputado estadual Edinho Silva, no entanto, acha que são situações diferentes. "Já estamos conversando com aliados e construindo a pré-candidatura de Padilha desde agosto passado. No caso de Mercadante, iniciamos esse trabalho seis meses antes da eleição", comparou.

Com isso, a desincompatibilização de Padilha poderá acontecer no início de 2014, com os demais ministros que deixarão o governo para concorrer a cargos eletivos. "É melhor, dá mais tempo para "surfar" na popularidade do programa", justificou um aliado do ministro.

Sobre a pesquisa do Conselho Federal de Medicina, o Ministério da Saúde afirmou, por meio de nota, que houve aumento nos gastos com obras e equipamentos, que passaram de R$ 2,4 bilhões para R$ 5,2 bilhões no período analisado. Além dos recursos federais diretos, a pasta repassa também outros valores para que estados e municípios invistam em infraestrutura. O ministério disse ainda que, entre 2001 e 2012, usou, anualmente, 99% do valor disponível, sem considerar o montante contigenciado.

Fonte: Correio Braziliense

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